Insônia, medo, preocupação e tensão estão entre os sintomas relatados por idosos em um levantamento feito pelo Hospital do Servidor Público Estadual que revelou aumento de 15,38% nos níveis de ansiedade durante a pandemia do novo coronavírus. O estudo foi feito com 180 idosos, por telefone, que foram monitorados de maio a outubro por profissionais do PAI (Programa de Atenção ao Idoso).
Questões relacionadas ao humor, sono, disposição para atividades, além de observações sobre o comportamento das pessoas durante a pesquisa foram itens avaliados. O número de relatos positivos de ansiedade passou de seis, no início da pandemia, para 33 no final do período de monitoramento. A comparação dos dados entre maio e outubro também apontou alta de 7,14% nas questões relacionadas a humor deprimido, como tristeza ou perda de interesse por atividades. Já os relatos de insônia intermediária, que é quando se acorda no meio da noite, subiram 4,95%
“O idoso foi tirado de sua rotina, está com medo da Covid-19 e privado de sua atividade externa. A vida deles foi muito sacrificada”, disse a médica Gilka Barbosa Lima Nery, 82 anos, criadora e responsável pelo PAI.
Participando ativamente do programa, a médica diz que fez 500 ligações telefônicas durante o período de confinamento e que, por já conhecer os idosos, foi possível encaminhá-los para consultas e outros atendimentos de acordo com a necessidade.
O PAI oferece aos idosos aulas de atividades físicas, trabalhos manuais, línguas (inglês e francês), oficinas de poesia, memória, canto, teatro e música, que passaram a ser realizados de forma remota durante a pandemia.
Para Gilka, é necessário reforçar diferentes abordagens para manter os idosos ativos. “A sensação de pertencer a uma comunidade e saber que há alguém que se preocupa com eles e dá amparo é muito importante para a preservação da saúde, pois a solidão pode levar à depressão”, disse.
Na opinião da vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Anna Carolina Lo Bianco, 71 anos, é importante que os idosos identifiquem quais são as dificuldades e que pensem em atividades que tragam prazer. “É preciso pensar que o confinamento é algo passageiro e que se procure coisas que dão prazer para que não se sofra mais ainda”.
Ela acredita que idosos que se cerquem de uma rede de familiares e amigos em contato online podem evitar os problemas relacionados ao aumento dos níveis de ansiedade.
O governo do estado de São Paulo, gestão João Doria (PSDB), está em fase final de elaboração do Programa Autoestima, voltado para atender questões relacionadas à área da saúde mental durante a pandemia para todas as faixas etárias. Em parceria com a USP (Universidade de São Paulo), está capacitando profissionais para a realização de atendimentos online. Além disso, oferecerá conteúdos relacionados a autocuidado, controle do estresse, relaxamento e alimentação.
“Em maio, tivemos uma reunião e pensamos em questões emergenciais relacionadas à pandemia. Porém, acreditamos que haja um aumento dos transtornos mentais mais comuns e que se estendam para além desse período. A ideia, então, foi construir uma plataforma através da qual pudéssemos dar condições para a população acessar conteúdos e ter atendimento”, disse a médica Rosângela Elias, da coordenadoria de Saúde Mental do Estado de São Paulo. Através do site, que deverá ficar pronto nas próximas semanas, a população poderá agendar atendimentos e receber encaminhamentos.
Aposentada chegou a perder o sono
Foi após o contato de um profissional do PAI (Programa de Atendimento ao Idoso), que a auxiliar de enfermagem aposentada Edeleide Pereira de Almeida, 63 anos, começou a tratar uma depressão potencializada pelo isolamento.
“Cheguei ao ponto de não dormir e me alimentar com dificuldade. Fiquei em uma situação muito difícil porque moro sozinha e não estava fácil ficar aqui só entre quatro paredes, sem sair. Meu nível de ansiedade ficou muito grande e tive muito medo. O que me socorreu, ajudou e reanimou foi a interferência do pessoal do PAI”, disse.
Edeleide faz a atividade física com aulas online, por onde também faz canto, pintura e exercícios para a memória. A aposentada ainda recebe orientações relacionadas a hábitos de proteção e higiene. “Tive um professor que me indicou ir ao supermercado em um horário mais vazio e não passar mais de 40 minutos no local. Também me deu a dica de fazer uma lista de compras de acordo com a disposição dos produtos nas prateleiras. E isso é muito bom porque assim não demoramos muito no mercado”, disse.
Ela também disse que aprendeu a higienizar as compras, normas para utilizar a máscara e o álcool gel.
Instituto atende 160 pessoas
O Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), no HC (Hospital das Clínicas), atendeu 160 pessoas a partir de 50 anos com sintomas de ansiedade e depressão em virtude da pandemia do novo coronavírus. Os atendimentos online ocorreram de abril a dezembro e a equipe de psicólogos responsáveis estuda iniciar um novo grupo para este ano, mas ainda não há data definida.
De acordo com a psicóloga coordenadora Dorli Kamkhagi, do laboratório de neurociência do instituto, as principais queixas apresentadas foram angústia, ansiedade, desesperança, depressão, medo e raiva. Os psicólogos atenderam por meio de chamadas de vídeo de WhatsApp.
Além do grupo, pacientes em acompanhamento nos ambulatórios do instituto também foram assistidos. Assim como todo o HC, o instituto só atende pacientes de alta complexidade encaminhados pelas redes públicas municipal e estadual de Saúde.
Saiba mais
Principais sintomas apresentados pelos idosos
- Insônia e outras dificuldades no sono
- Tensão e irritabilidade
- Sentimentos de tristeza
- Indisposição
- Perda de interesse por atividades
- Preocupação com trivialidades
Principais indicações dos profissionais do Programa
- Encaminhamento médico e psicológico
- Atividade física
- Trabalhos manuais
- Oficinas de poesia e música
- Aulas de teatro e canto
- Aulas de idiomas
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