Exposição resgata legado, política e amor por SP do 'Cardeal do Povo'

Última semana da mostra que conta a história do franciscano dom Paulo Evaristo Arns e da cidade que ele adotou

Juliana Santos

Em sua terceira edição, a exposição “Dom Paulo Evaristo Arns” —que levou ao Centro Cultural Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, fotografias, cenários e textos que contam a rica história de vida do religioso catarinense que adotou a capital paulista como sua terra—, termina neste domingo (28).

Além da vida do religioso, premiado por sua atuação humanitária junto aos moradores de rua, aos operários e aos perseguidos políticos brasileiros, a exposição conta a história da própria cidade de São Paulo, onde dom Paulo ascendeu à posição de arcebispo e onde morreu, em 2016, aos 95 anos.

O arcebispo de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns, conhecido como  Cardeal do Povo"
O arcebispo de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns, conhecido como Cardeal do Povo" - Sergio Zacchi - 11.ago.05/Valor/Agência O Globo

A mostra segue protocolos de segurança e distanciamento, incluindo o uso obrigatório de máscaras. Monitores acompanham os visitantes, que poderão comparecer em grupos de até dez pessoas.

As peças incluem uma representação lúdica da Catedral da Sé, onde o cardeal celebrou grandes cultos em memória do jornalista Vladimir Herzog e do operário metalúrgico Santo Dias, além das missas de 1º de maio, Dia do Trabalho.

Há também uma escultura remontando às valas clandestinas do cemitério de Perus (zona norte), onde foram encontradas ossadas de presos políticos do regime militar.

Outro elemento, em formato de campo de futebol, conta a relação de dom Paulo com seu time do coração, o Corinthians, clube de massa popular cuja a “Democracia corintiana” —movimento contra a ditadura surgido na década de 1980, liderado por um grupo de futebolistas politizados como Sócrates e Casagrande— contou com atuação direta do franciscano.

A mostra inaugurou sua primeira edição em 2018, por iniciativa de Evanize Sydow e Marilda Ferri, biógrafas do autoproclamado “cardeal do povo”. Para Marilda, dom Paulo sempre foi um homem à frente de seu tempo, e ganha ainda mais relevância para o Brasil de 2021.

“Ele traz uma mensagem de esperança importante num momento de retrocesso em relação aos direitos humanos, no desmonte de todo trabalho para melhorar a vida das pessoas e reduzir a desigualdade”, diz a jornalista. “É um homem atual e nos traz uma forma interessante e bonita de se fazer política, se organizar, pensar criticamente e agir dentro de sua comunidade”.

Através da exposição, em sua terceira edição, a curadora busca inspirar a geração contemporânea a dom Paulo e também os mais jovens a “fazer a diferença”, além de mostrar como a relação entre a Igreja, a política e o povo pode ser produtiva. “O cardeal é um príncipe da Igreja —ele soube usar o prestígio para defender os interesses da população, sobretudo dos mais pobres. Fez isso majestosamente, mantendo relações com todas as matrizes políticas.”

Peça da exposição "Dom Paulo Evaristo Arns", que retrata a Catedral da Sé
Peça da exposição "Dom Paulo Evaristo Arns", que retrata a Catedral da Sé - Cleber Cardoso Nunes/Divulgação

A influência do arcebispo em diferentes regiões da cidade, principalmente bairros periféricos, é celebrada ao lado de sua faceta mais introspectiva e espiritual.

Marilda Ferri conta que dom Paulo era devoto a São Francisco e viajava todas as semanas para um retiro de irmãs franciscanas para estudar e fortalecer sua fé. Na capital, ele a aplicava, atuando ao lado de sua irmã Zilda Arns (1934-2010) e de outros conhecidos religiosos na defesa de trabalhadores, dos mais pobres e perseguidos políticos.

“Também é papel da Igreja oferecer elementos para a reflexão, senso crítico e para a autonomia do povo, diante de uma realidade que oprime”, sustenta Marilda. Ainda no segundo semestre de 2021, uma nova exposição celebrará o centenário de dom Paulo, nascido em 14 de setembro de 1921, em Forquilinha (SC). Com montagem prevista na Assembleia Legislativa de São Paulo, a nova mostra terá colaboração do muralista Eduardo Kobra.

“Sobretudo com a pandemia e o momento político, é importante enfatizar que o legado de dom Paulo é a esperança”, conclui a biógrafa e co-autora, ao lado de Evanize Sydow, de “Dom Paulo Evaristo Arns — Um Homem Amado e Perseguido”, relançado em 2017.

SERVIÇO

‘Dom Paulo Evaristo Arns’ No Centro Cultural Santo Amaro (av. João Dias, 822, Santo Amaro, tel. (11) 5541-7057). Visitação de ter. a dom, das 10h às 18h. Grátis. Até 28/2.

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