Descrição de chapéu Grande SP Coronavírus

Médicos orientadores pedem demissão de hospital da Grande SP

Segundo sindicato, 15 preceptores em Guarulhos cumprem aviso prévio até domingo (28); organização fala em três saídas

São Paulo

A falta de medicamentos e insumos básicos, como luvas e gazes, fez com que 62,5% dos médicos preceptores, aqueles que orientam residentes, pedissem demissão do HMPB (Hospital Municipal Pimentas Bonsucesso), em Guarulhos (Grande SP), segundo o sindicato da categoria. Os 15 profissionais, de um total de 24, ainda trabalham no local até este domingo (28), cumprindo aviso prévio, acrescentou a entidade.

O local pertence à Prefeitura de Guarulhos, gestão Gustavo Enric Costa (PSD), o Guti, mas é administrado desde o início do ano passado pela OS (Organização Social) IDGT (Instituto de Desenvolvimento de Gestão, Tecnologia e Pesquisa em Saúde e Assistência Social). A entidade confirma, no entanto, três desligamentos, de um total de seis preceptores.

Augusto Ribeiro Silva, diretor do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), afirmou que a falta de antibióticos, por exemplo, impede a realização dos ciclos de administração deste tipo de medicamento, os quais garantem efetividade em resultados clínicos.

“Houve casos [em Guarulhos] em que acabou a medicação, no meio do ciclo, obrigando os médicos a substituírem por outros. Isso provoca perda de parâmetros, comprometendo os prognósticos. Fica muito difícil trabalhar assim”, afirmou.

Ele acrescentou que, sedativos usados geralmente em pacientes intubados, também estão em falta na unidade da Grande SP. Por causa disso, profissionais do hospital chegaram a presenciar a morte "lenta e dolorosa" de pessoas internadas. “Isso é contra a ética médica”, destacou.

A constante falta de estrutura e de itens básicos, segundo uma residente da unidade, provocou o pedido de demissão de 15 médicos preceptores, pelos quais era orientada.

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Fachada do Hospital Municipal Pimentas-Bonsucesso, em Guarulhos (Grande SP) - João Vitor Reis/Agência Mural/Folhapress 18.11.2019

“No início faltavam alguns insumos. Mas isso já é esperado no SUS [Sistema Único de Saúde], onde sempre se ‘dá um jeito’, substituindo um medicamento por outro similar. A situação piorou de verdade no fim do ano passado e no início deste, pois não tinha mais como substituir os medicamentos, que estavam em falta”, disse a residente.

Segundo a residente, em janeiro deste ano um homem de 40 anos, infartando, deu entrada no HMPB. Ele precisava com urgência de um trombolítico (medicamento que ajuda na dissolução de coágulos, restaurando o fluxo sanguíneo), mas que estava em falta na unidade.

Ele só conseguiu o remédio após “barganhar” com uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) que enviou o medicamento após a jovem garantir o atendimento de um paciente da outra unidade.

A residente também relatou que a falta de sedativos impede que pacientes fiquem inconscientes durante a intubação. “Isso não os deixa relaxados, impedindo que os equipamentos [respiradores] atuem de forma efetiva. Testemunhei um paciente [com Covid-19] morrer mordendo a mangueira [que leva oxigênio ao pulmão], pois a intubação não estava funcionando, pelo fato de ele estar consciente.”

Resposta

O IDGT (Instituto de Desenvolvimento de Gestão, Tecnologia e Pesquisa em Saúde e Assistência Social), que administra o Hospital Municipal Pimentas Bonsucesso, desde o ano passado, afirmou estar com dificuldades para comprar medicamentos, "como a maioria dos hospitais", em decorrência da alta demanda decorrente a pandemia da Covid-19.

"Além disso, a procura fez os preços subirem, o que também complica a compra. Apesar das dificuldades, a diretoria tem trabalhado com todos os meios e o hospital vem sendo abastecido regularmente", afirmou.

Sobre as mortes relatadas pelo Simesp (Sindicado dos Médicos de Sâo Paulo), supostamente provocadas pela falta de estrutura e insumos, o instituto afirmou que a informação "é genérica e não corresponde a verdade".

Com relação aos pedidos de desligamentos feitos por médicos, o IDGT acrescentou que três médicos, de um total de seis, pediram demissão. "Os que atuam na UTI [Unidade de Tratamento Intensivo] já foram contratados e os da Clínica Médica estão em fase final de contratação, o que acontecerá antes de março", garantiu

A Secretaria Municipal da Saúde, gestão Guti, afirmou não ter sido informada oficialmente sobre as denúncias mencionadas pelo sindicato.

"A secretaria trabalha para garantir o melhor atendimento possível no hospital, não permitindo que a população fique desassistida. Existe um contrato em vigor com o IDGT, que neste momento responde pela operação daquela unidade hospitalar", afirma trecho de nota.

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