Passageiros lamentam fim da gratuidade no transporte de SP

Passou a valer nesta segunda-feira (1º) o fim do benefício que liberava o uso de transporte público na cidade de São Paulo para quem tem entre 60 e 64 anos

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São Paulo

Sem conseguir se aposentar, Antonia Irani Quirino, 60 anos, do Carrão (zona leste de São Paulo), trabalha como empregada doméstica de segunda a sexta-feira para poder pagar os boletos. Aos fins de semana, aproveitava o Bilhete Único do idoso e a gratuidade do transporte público para visitar a mãe, a filha ou fazer as suas comprinhas, passeios que serão limitados com o fim do benefício, em vigor desde ontem. “Moro sozinha, pago o meu aluguel, luz, água, todas as minhas contas trabalhando de empregada doméstica. Para pagar o ônibus agora vou ter que tirar da alimentação”, afirmou.

A gratuidade de viagens nos trens, metrô e ônibus municipais e intermunicipais para pessoas de 60 anos a 64 anos vigorava desde 2013 na cidade de São Paulo. Com as novas medidas adotadas em conjunto pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), e o governador João Dória (PSDB), às vésperas do Natal do ano passado, essa faixa etária perdeu o benefício e, desde esta segunda-feira (1º), está obrigada a pagar.

O fim da gratuidade chegou a ser barrada na Justiça, mas os dois governos conseguiram derrubar as decisões. Ainda há outras ações em andamento.

Só na capital a medida atinge 186 mil pessoas que utilizavam o Bilhete Único do idoso nos ônibus municipais. Uma delas será o aposentado Pedro Acioli, de 62 anos, morador da Vila Formosa (zona leste). “Andar de ônibus agora vai ser um artigo de luxo. Com esse valor de aposentadoria, vai ficar difícil”, diz.

O fim da gratuidade obriga aqueles com menos de 65 anos a adquirir um Bilhete Único comum e pagar R$ 4,40 para usar ônibus, trens, metrô ou percorrer trajetos entre um município ou outro de ônibus, que varia de valor dependendo do trajeto percorrido. Aqueles com mais de 65 anos mantiveram o benefício, conforme determina o Estatuto do Idoso.

Originalmente, a medida entraria em vigor no dia 1º de janeiro. Sob alegação de dar um prazo maior para que a troca dos bilhetes fosse feita, Estado e prefeitura decidiram prorrogar o prazo para ontem, 1º de fevereiro.

Apesar disso, a aposentada Viviane Ardizzoni, de 62, moradora do Tremembé (zona norte), não fez um novo Bilhete Único com esperança de que a medida seria postergada novamente. Nesta terça-feira (2), disse que vai precisar usar ônibus e vai perder a integração, já que pagará em dinheiro na catraca. “Estou muito frustrada e decepcionada. Em vez de fazerem algo para o povo, eles tiram o pouco que fizeram. É só mais uma decepção. Parece que a gente não tem voz”, afirmou.

Nesta segunda, alguns passageiros, entre eles a doméstica Antonia Irani Quirino, relataram ter conseguido usar o antigo bilhete. Ela conta que levou dois bilhetes, o antigo, do idoso, e o comum, para uma consulta médica. “Eu tentei usar o antigo e passou. Não paguei. Vou tentar usar de novo”, disse.

É bem provável que ela não consiga, segundo nota da SPTrans. Conforme a empresa que gerencia o transporte público com ônibus na capital, o cancelamento começou à meia-noite de desta segunda e a atualização do sistema —que inclui catracas instaladas nos 12 mil ônibus, e em todas as estações de trens e metrô— está sendo feita de forma gradativa.

A nota afirma ainda que a prefeitura manteve a gratuidade para quase 1,7 milhão (1.689.822) de pessoas a partir de 65 anos. “Foram aplicados, em 2019, período anterior à pandemia, R$ 1,8 bilhão para manter todos os benefícios concedidos (as gratuidades) no transporte público da capital. Desse total, foram R$ 712 milhões para estudantes, R$ 338 milhões para idosos entre 60 e 64 anos, R$ 495 milhões para idosos a partir de 65 anos e R$ 275 milhões para pessoas com deficiência”, diz o texto.

Quando anunciaram a redução do benefício, estado e prefeitura, por meio de nota conjunta, afirmaram que a medida “acompanha a revisão gradual das políticas voltadas a esta população, a exemplo da ampliação da aposentadoria compulsória no serviço público, que passou de 70 para 75 anos, a instituição no Estatuto do Idoso de uma categoria especial de idosos, acima de 80 anos, e a recente Reforma Previdenciária, que além de ampliar o tempo de contribuição fixou idade mínima de 65 anos para aposentadoria para homens e 62 anos para mulheres".

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