Descrição de chapéu skate

Efeito Rayssa atrai meninas para aulas de skate em São Paulo

Mulheres são presença marcante nas escolinhas espalhadas pela capital paulista; procura cresceu após medalha

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São Paulo

A entrada do skate como modalidade nas Olimpíadas de Tóquio trouxe maior visibilidade ao esporte, além de instigar a vontade de praticá-lo. Com a medalha de prata conquistada por Rayssa Leal, a Fadinha, a procura por aulas de skate para crianças passou a ser ainda maior e meninas já são maioria em alguns locais que oferecem aulas na cidade de São Paulo.

"As meninas estão dando um show. Hoje, de dez crianças que damos aula, nove são meninas", conta Márcio Fernandes, 47 anos, que é um dos sócios da Mulek de Rua, loja que vende carrinho de rolimã, skate e outros produtos no bairro do Ipiranga, zona sul da capital.

De acordo com Márcio, a procura por aulas para o público infantil feminino aumentou bastante após a medalha de Rayssa nas Olimpíadas. "Na realidade, muito disso depende dos pais. São eles que mostram aos filhos um brinquedo, um esporte diferente", diz.

O professor de skate Denis Roberto Martins, 47, afirma que as aulas, oferecidas a crianças a partir dos três anos de idade, utilizam uma metodologia lúdica fundamental, segundo explica.

"Buscamos o desenvolvimento das crianças por meio da diversão. A gente sempre trabalha com brincadeiras, porque não adianta impor atividades", afirma. "Eu uso muito a questão do 'morto-vivo' para a criança aprender a agachar e levantar no skate, por exemplo."

Denis diz que, antes mesmo das Olimpíadas, as meninas já eram a maior parte da procura por aulas de skate e que o evento potencializou ainda mais a busca por vagas.

Na Cavepool, pista particular que fica no Butantã (zona oeste) com preços a partir de R$ 20 para uso do espaço, além da participação em massa nas aulas durante a semana, o público feminino ganhou exclusividade. Aos domingos, do meio-dia às 15h, a pista de skate é reservada para uso somente de mulheres e a adesão é grande.

"Isso já acontece há uns dois anos e, hoje, temos um movimento de 30, 40 meninas aos fins de semana. Elas ficam à vontade e curtem muito a pista", afirma Leandro Miranda, 35, empresário e dono da Cavepool. Segundo ele, entre 50% e 60% do público das aulas durante a semana também são mulheres.

Com os Jogos Olímpicos, ele afirma que houve um crescimento na procura de aulas para crianças. "Acredito que sejam os pais e as crianças vendo na TV aquilo que está acontecendo e isso trouxe uma repercussão grande de pais buscando aulas pros filhos", diz.

O Rajas Skate Park. na Barra Funda (zona oeste), centro de treinamento e escola de skate indoor com preços a partir de R$ 60, também particular, atingiu sua capacidade máxima de alunos após as Olimpíadas, segundo Alex Toledo, um dos sócios do local. Ele explica que, nos últimos três meses, a busca por aulas já vinha aumentando, fator que uniu-se ao sucesso do evento esportivo.

"As meninas hoje são metade dos nossos alunos. Isso realmente é uma mudança radical na prática do esporte. Hoje, a demanda de meninas e meninos é igual", relata.

Os Jogos Olímpicos foram essenciais para a pequena Maya Otaga André, 5, decidir abraçar o mundo do skate. Seu pai, o publicitário Alessandro André, 39, já havia tentado apresentar a modalidade à filha, mas foi Rayssa Leal quem fez Maya querer aprender a andar de skate.

"Nas Olimpíadas, ela acompanhou comigo e conheceu o encanto da Rayssa. Pegou um skate maiorzinho que tínhamos em casa e escolheu uma roupa de fadinha para andar", conta o pai. Agora, Maya faz aulas no Parque da Independência, no Ipiranga.

Construção da cidadania

Márcio Fernandes vê o skate como uma maneira de tirar as crianças da dependência dos celulares, computadores e videogames. "Temos que mostrar aos nossos filhos a essência da base da infância, seja com o skate, com o carrinho de rolimã ou soltando pipa", defende.

Para a psicopedagoga Deyse Campos, o skate é uma oportunidade de tirar as crianças de dentro de casa. "Se a gente quer construir cidadãos, temos que fazê-los conhecer e conviver a cidade. A cidadania se desenvolve no exercício, na prática e na experiência da cidade", esclarece.

Além disso, o esporte traz uma noção de coletividade que é essencial para as crianças, segundo a especialista. "Quanto mais as crianças circulam, mais elas aprendem a se organizar a conviver consigo mesmas e com as outras", diz Deyse.

O professor Denis Roberto Martins ressalta que a modalidade traz uma competitividade saudável. "Diferentemente dos outros esportes, no skate quem perde não costuma ficar triste. Em um campeonato, todos comemoram juntos, independente de quem ganhou e de quem perdeu."

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