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Às véspera de ano eleitoral, governo Doria inaugura pacotão de estações do metrô e da CPTM

Com atraso de até nove anos, três obras devem ser entregues até dezembro em São Paulo

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São Paulo

Às vésperas de ano eleitoral, o governo João Doria, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, tem intensificado o ritmo de entregas de obras atrasadas do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos, três novas estações devem ser entregues ainda neste fim de 2021.

O secretário de transportes Alexandre Baldy nega que o pacote de inaugurações tenha relação com a eleição do ano que vem. Segundo ele, “o governo estadual investiu R$ 32 bilhões nas obras das 36 novas estações que estão sendo feitas, o que chegará a, aproximadamente, 48 km de extensão”.

Renato Eliseu Costa, professor de gestão pública e ciências políticas da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), diz ver possível cunho político nas inaugurações. Segundo ele, ao longo dos anos houve problemas de gestão no andamento de obras que provocaram atrasos injustificáveis.

Obra da estação Vila Colonial, na zona leste de São Paulo, que faz parte da linha 15 do monotrilho, que deverá ser inaugurada em outubro - Rivaldo Gomes/Folhapress

No pacote de obras que cuja entrega está prometida para este ano estão as estações Vila Sônia, da linha 4-amarela do metrô, que chegou a ser citada para 2014; Jardim Colonial, da linha 15-prata do monotrilho, prometida para 2012; e João Dias, da linha 9-esmeralda da CPTM, a única com previsão de inauguração em dia.

No inicio desta sequência de inaugurações e em clima de campanha eleitoral, Doria provocou aglomerações, no último dia 10 de agosto, na abertura da estação Mendes-Nadal, da CPTM, rebatizada depois de estação Bruno Covas, em homenagem ao prefeito de São Paulo morto em maio. O local foi aberto ao público com cinco anos de atraso.

Em meio a muita aglomeração na estação lotada, alguns dos participantes empunhavam faixas com os dizeres: "Brasil pra frente, Doria presidente".

Última estação da linha 4-amarela do metrô a ser entregue, a Vila Sônia deverá ser inaugurada em dezembro e contará com um terminal de ônibus anexo. A obra faz parte da fase 2 de entregas da linha, que abrangia também Higienópolis, Oscar Freire, Fradique Coutinho e São Paulo-Morumbi, e deveria ter ficado pronta em 2014. O custo inicial previsto para esta etapa era de R$ 858 milhões, mas deve chegar a cerca de R$ 2,1 bilhões, segundo o próprio governo.

Já a estação João Dias deve ser entregue no mês que vem. Localizada entre as paradas Granja Julieta e Santo Amaro da linha 9-esmeralda da CPTM, na zona sul, ela compõe um trio de estações que faz parte do projeto de expansão da linha. As obras de ampliação incluem também a estação Bruno Covas e a Varginha que, segundo a secretaria, será entregue em 2022.

A outra estação que deverá ser inaugurada em outubro deste ano, segundo a gestão Doria, é a do Jardim Colonial. Ela faz parte de mais uma etapa da construção da linha 15-prata, que começou a ser construída em 2009 e iria inicialmente da Vila Prudente à Cidade Tiradentes e seria entregue até 2012.

Após atrasos, alterações no projeto e a retomada das obras em abril de 2019, a linha 15-prata hoje vai até a estação São Mateus e receberá quatro novas estações. Depois do Jardim Colonial, serão entregues mais duas no sentido leste —Boa Esperança e Jacu Pêssego— , e uma no sentido oeste, Ipiranga. As três têm previsão de entrega para 2024.

Em 2022, mais uma linha do monotrilho aguardada há dez anos deve ser inaugurada, segundo a pasta. Prometida pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB) em 2011, a 17-ouro estava prevista para ficar pronta antes da Copa do Mundo de 2014, ao custo de R$ 3,1 bilhões, com 18 estações que ligariam o aeroporto de Congonhas ao Jabaquara, passando por Paraisópolis, todos na zona sul da capital paulista.

Agora, o projeto abrange apenas o primeiro trecho do antigo trajeto, ligando, assim, o aeroporto à estação São Paulo-Morumbi. Segundo dados do governo estadual, a obra, que foi retomada na última quarta-feira (15), ficou mais cara e deverá custar R$ 4,7 bilhões —inicialmente a previsão era de R$ 3,1 bilhões.

Há também a promessa de que ficará pronta em 2025 a linha 6-laranja, que ligará a Brasilândia, na zona norte da capital, a São Joaquim, no centro, com um total de 15 km e 15 estações. Ela foi inicialmente prometida para 2013, mas as obras só começaram em 2015, mudando a previsão de entrega para 2020. Após problemas na PPP (parceria público-privada) entre o governo paulista e o consórcio Move São Paulo, as obras foram paralisadas em 2016 e conseguiram ser retomadas apenas em 2020, agora com a espanhola Acciona à frente.

Com previsão de entrega ainda mais distante, em 2026, estão as obras de extensão da linha 2-verde do metrô. O atual trecho que liga a Vila Madalena à Vila Prudente, ganhará oito novas estações até essa data, chegando então à Penha, na zona leste de São Paulo.

No futuro, existe pretensão do governo do estado para a retomada da ideia inicial de ampliação da linha até Guarulhos, afirma o secretário, Alexandre Baldy. “O projeto está sendo executado para que façamos mais estações até Guarulhos. Já estamos realizando as desapropriações necessárias. Liberamos todo o recurso necessário para fazer o projeto e essas desapropriações."

Outro aspecto apontado pelo secretário foi a ampliação da linha 5-lilás, que será realizada pela ViaMobilidade, concessionária que administra o trecho. “A extensão da linha 5 que irá até o Jardim Ângela deve contar com duas novas estações, o que aumenta a linha em quase 4 km. O projeto já está contratado, e a obra deve ter duração de, pelo menos, 60 meses”, afirmou Baldy.

No mês passado, um acidente paralisou obras na estação Santo Amaro do metrô. Uma passarela metálica que faria a ligação à estação de mesmo nome da CPTM caiu sobre o rio Pinheiros. A estrutura continua no chão, e a concessionária diz que aguarda resultados de estudos para fazer a retirada.

O Metrô realiza também diversas obras de menor porte, como implantação de portas de plataformas e modernização dos sistemas de sinalização e telecomunicação nas suas linhas.

A CPTM tem, no momento, obras de acessibilidade em andamento na estação Várzea Paulista, da linha 7-rubi, e em 4 estações da linha 10-turquesa. Já as estações Jundiaí, da linha 7-rubi, e a Rio Grande da Serra, da linha 10-turquesa, recebem obras de restauração.

Está também em curso a burocracia para a construção de um novo túnel subterrâneo na estação da Luz para melhorar a circulação dos passageiros entre as linhas 1-azul e 4-vermelha. A previsão de entrega é de 48 meses, segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos.

Demora injustificável

A maioria das estações e linhas que estão em obras hoje em São Paulo está com anos de atraso na conclusão. Segundo Renato Eliseu Costa, professor de gestão pública e ciências políticas da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), é normal que construções de grande porte demorem para serem concluídas, mas não tanto quanto nos casos do metrô e da CPTM.

“Geralmente, elas têm uma dificuldade a mais do que obras de menor porte por causa do processo pelo qual ela precisa passar. É necessário fazer pelo menos duas licitações, uma sobre o projeto e outra para a escolha da empresa que realizará a obra. Há a etapa do pagamento, que muitas vezes trata-se de valores que estão fora da capacidade do orçamento do estado e exige empréstimos e investimentos que terão que ser aprovados pela Assembleia Legislativa. E ainda questões como desapropriação e desistência das empresas”, explica Costa. "Mas não há justificativa para demorar 10 ou 15 anos.”

“Isso é má gestão. De maneira geral, há a criação de prazos que são fictícios, por questões eleitorais ou planejamento mal feito. Os prazos são estabelecidos sem considerar possíveis intercorrências, sem gestão de risco. Aí, qualquer problema com licitação, desapropriação ou questão geológica acaba sendo fator primordial para que esses prazos quase nunca sejam cumpridos”, diz Renato.

O especialista ainda aponta uma relação entre aceleração na entrega de obras grandes e ano eleitoral.

“Sem dúvida há um interesse em entregar essas obras antes da eleição, para que o governador ou prefeito possa participar da cerimônia. É muito comum que políticos utilizem os dois últimos anos dos mandatos para agilizar e entregar obras de grande porte porque estas ficam na memória da população como uma ação positiva daquela gestão”, afirma Costa.

Secretário diz que são projetos complexos

O secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado, Alexandre Baldy, diz que não há nenhuma ligação entre quantidade de obras que serão entregues entre 2021 e o fato de 2022 ser ano eleitoral.

“Nós apenas retomamos obras que precisavam ser concluídas, não tinha como fazer diferente. O que nós fizemos foi provocar um verdadeiro ataque forte nas obras para entregar nesse governo. Se fosse apenas uma questão eleitoral, não teríamos retomado a linha 6, por exemplo, porque não vamos entregar nada dela nessa gestão. Ou a estação do Jardim Colonial que nós começamos, mas não sabíamos se conseguiríamos terminar nesta gestão”, afirmou o secretário.

“Esse tipo de obra não tem como realizar um planejamento para o período de eleição. É um projeto de engenharia complexo, que tem muitas variáveis envolvidas, questões de solo que só se descobre quando a obra começa e eu nunca tive nenhuma pressão do governador para entregar obra para fazer evento”, afirma

Questionado sobre o atraso das obras, Baldy disse que as que estão sendo tocadas pelo atual governo foram paralisadas em gestões anteriores e pelos mais diversos motivos. “Na linha 17-ouro, por exemplo, a fabricante dos trens na Malásia faliu. Eles ficaram com um problemão na mão. O governo [de Geraldo Alckmin, também do PSDB] não tomou posição. Ficou aguardando a situação se resolver. E o fato é que, em uma situação como essa, você precisa tomar uma decisão: ou fica no impasse ou faz a rescisão e licita a obra de novo. A rescisão é uma decisão dura, mas que às vezes precisa ser tomada”, disse o secretário.

O secretário concorda com o professor de gestão pública Renato Eliseu Costa sobre problemas de gestão terem atrapalhado o andamento da obra.

“Quando percebo que não tem evolução da obra, para que vou aguardar o processo se resolver? Você tem que tomar uma decisão. Tem que rescindir e tocar outra porque senão você vai ficar ali. Não tenho dúvida que o nosso maior diferencial foi colocar uma boa equipe, com coragem de tomar decisões. Depois da rescisão, nós tomamos a decisão de dividir as responsabilidades: licitamos a construção civil, os sistemas e o material rodante, sistema de energia e de comunicação todos separados. Fizemos assim para que pudéssemos ter os mais competentes em cada área”, diz Baldy.

RESPOSTA

Clodoaldo Pelissioni, que foi secretário de Transportes Metropolitanos da gestão Geraldo Alckmin, (PSDB) disse que os atrasos na construção da linha 17-ouro ocorreram por problemas com as empresas contratadas, mas que o governo da época se esforçou para resolvê-los. Ele citou a problemas com a Operação Lava Jato, dizendo que uma das empreiteiras que tocava a obra era investigada. "Em outubro de 2015 ela quis fazer um reequilíbrio no contrato que nós não tínhamos como pagar, então paralisou as obras. Em janeiro de 2016, a gestão então rescindiu os contratos das estações e do pátio e contratou as segundas colocadas da licitação e as obras foram retomadas”, diz.

“Depois tivemos questões relacionadas ao contrato principal, o contrato dos trens", afirmou.

Sobre o atraso na linha 4-amarela ele disse que o governo teve de rescindir o contrato e contratar uma nova empresa. "Foi uma licitação internacional, você tem que aprovar a licitação no BID, pedir um empréstimo no Banco Mundial e isso, infelizmente demora”, disse Pelissioni

Ele alegou que as investigações da Lava Jato também interferiram na construção da linha 6-laranja. “A linha 6 foi uma questão 100% Lava Jato. Nossos pagamentos estavam em dia, mas as empresas não obtiveram financiamento no BNDES por estarem sendo investigadas.”

Ele ainda apontou que a expansão da linha 2-verde não teve início na gestão Alckmin por uma questão de prioridade. “O governo licitou a obra, mas a crise de 2014 e 2015 foi muito brava e nós passamos a priorizar as obras que tínhamos iniciado e a linha 2 nós ainda não havia começado. Assinamos os contratos, mas deixamos eles suspensos, tanto é que foram aproveitados pela atual gestão", afirmou.

METRÔ E CPTM | OBRAS EM ANDAMENTO

Ampliação da linha 4-amarela (estação Vila Sônia)

  • Custo planejado: R$ 858 milhões
  • Custo atualizado: R$ 2,1 bilhões para toda fase 2 da linha 4-amarela
  • Promessa de inauguração: 2014
  • Expectativa de inauguração: 16 de dezembro de 2021

Ampliação da linha 2-verde (Vila Prudente– Penha)
8 estações

  • Custo planejado: R$ 10,1 bilhões
  • Custo atualizado: R$ 8,6 bilhões
  • Promessa de inauguração: 2017
  • Expectativa de inauguração: 2026

Construção da linha 6-laranja (Brasilândia – São Joaquim)
15 estações

  • Custo planejado: de R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões
  • Custo atualizado: R$ 15 bilhões
  • Promessa de inauguração: 2013
  • Expectativa de inauguração: 2025


Ampliação da linha 9-esmeralda
Estações João Dias e Varginha

  • Custo planejado: João Dias: R$ 60 milhões / Varginha: R$ 87 milhões
  • Custo atualizado: João Dias: R$ 81 milhões / Varginha + Mendes-Vila Natal: R$ 975 milhões ​
  • Promessa de inauguração: João Dias: 2021 / Varginha: 2022
  • Expectativa de inauguração: João Dias: 2021 / Varginha: 2022

Obras de expansão da linha 15-prata Monotrilho + 4 estações (Ipiranga – Jardim Colonial, Boa Esperança e Jacu-Pêssego)

  • Custo planejado: R$ 5,5 bilhões
  • Custo atualizado: R$ 8,4 bilhões (inclui trecho já construído e expansão)
  • Promessa de inauguração: 2012
  • Expectativa de inauguração: Jardim Colonial: 2021 / Ipiranga, Boa Esperança e Jacu-Pêssego: 2024


Construção da linha 17-ouro Monotrilho (Aeroporto de Congonhas – Morumbi)
8 estações

  • Custo planejado: R$ 3,1 bilhões
  • Custo atualizado: R$ 4,7 bilhões
  • Promessa inicial de inauguração: 2014
  • Expectativa de inauguração: 2022

Obras complementares

Acessibilidade - São Caetano do Sul e Utinga – linha 10-turquesa

  • Custo planejado: R$ 52 milhões
  • Expectativa de inauguração: 2023


Acessibilidade - Prefeito Saladino e Capuava – linha 10-turquesa

  • Custo planejado: R$ 30,6 milhões
  • Expectativa de inauguração: 2024


Acessibilidade - Várzea Paulista – linha 7-rubi

  • Custo planejado: R$ 6 milhões
  • Expectativa de inauguração: 2021


Restauração - estação Jundiaí – linha 7-rubi

  • Custo planejado: R$ 6,8 milhões
  • Expectativa de inauguração: 2021

Construção do Túnel da estação da Luz

  • Custo planejado: R$ 59,9 milhões
  • Expectativa de inauguração: 2022
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