A necessidade das pessoas de carregarem para todo lugar o cartão de vacinação contra a Covid-19, já que muitos locais exigem comprovação da imunização, o chamado passaporte da vacina, levou vendedores ambulantes a aderirem a uma nova moda: a comercialização da capinha de proteção do documento nos trens e estações do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). E estão faturando com isso.
Os camelôs podem ser encontrados em vagões do metrô, trens e nas entradas das estações, mas sempre atentos para qualquer movimentação dos seguranças e não perderem a mercadoria no caso de flagrante.
Por volta das 10h de sexta-feira (24), o ambulante Ronison Cardoso, 37 anos, carregava em mãos uma série de capinhas na cor azul, na passarela que dá acesso à estação Belém, da linha 3-vermelha do metrô. Ele, que é morador do Sacomã (zona sul da capital paulista), afirmou que chega a trabalhar mais de dez horas diariamente com a venda dos produtos. E que vende cada unidade por R$ 1.
O ambulante alegou que paga R$ 40 por 100 protetores, que são adquiridos em um comércio na região central da cidade.
Cardoso, que trabalha nas ruas há mais de uma década, disse que chega a vender, em média, 50 unidades por dia, sendo que a procura pelos itens é maior em estações como Clínicas, da linha 2-verde do metrô, e Barra Funda, da linha 3-vermelha, e que também possui conexões com os trens da CPTM.
"Em dia de pagamento é o melhor, as pessoas estão mais alegres. A vida do ambulante é difícil. Uns dias te dão atenção, outros não. Outros até humilham", afirmou.
E a "carteirinha do Covid", nome que Cardoso usa para atrair clientes, caiu nas graças dos passageiros do metrô. Em apenas cinco minutos de conversa, duas pessoas pararam para levar os objetos azuis que possuem uma capa transparente na frente.
Uma delas foi o advogado Daniel Santos, 29, que adquiriu cinco protetores. Se dizendo com pressa, apenas explicou que elas seriam dadas aos pais e ao avó, "para conservar o documento". Ele também contou que já tinha visto o item em outra oportunidade, mas que não havia conseguido comprar.
Menos de dois minutos depois da primeira venda, foi a vez do eletricista Gildasio Brandão de Oliveira, 57, se interessar pelo produto. Morador de Francisco Morato (Grande São Paulo), ele afirmou trabalhar em diversos órgãos públicos que exigem o passaporte da vacina para ingresso.
"É um documento. Sem ela organizada não consigo entrar. Se eu não aparentar que tomei vacina, eu não entro em delegacia ou no fórum", afirmou.
O homem também levou cinco capinhas, que foram pagas no cartão de débito, já que Cardoso carrega consigo uma máquina, precavido em caso do cliente não ter cédulas ou moedas no bolso.
Entre uma venda e outra, Cardoso também fica de olhos atentos para a chegada de algum segurança ou agente do metrô.
"No trem, o segurança não deixa trabalhar, já perdi material", afirmou ao explicar porque prefere vender os produtos nos acessos às estações e não após as catracas. "E porque existem muitos vendedores dentro dos vagões, já separados em equipes."
Também, de olho no lucro, há uma semana, o ambulante Moisés da Silva, 21 anos, deixou de comercializar fones de ouvido nas estações de metrô para vender exclusivamente capinhas para o passaporte de vacina.
"Esse vai ser o novo documento, e não vai ter segunda via. Vai ser pedido no bar, no cinema e até mesmo para entrar no metrô", afirmou ele, que vende capinhas de plástico coloridas a R$ 1 na linha 2-verde.
Moisés contou que arrecada até R$ 400 por dia. "Tem dias que é bem menos, mas quando o pessoal recebe, é nessa média."
Ao contrário do outro ambulante, Silva afirmou que os seguranças do metrô não o oprimem ou tomam sua mercadoria. "Eles são muito educados e pedem apenas que nos retiremos da estação. Não é permitido esse comércio, mas eu estou ajudando as pessoas [a protegerem seus cartões de vacina] e me ajuda a ter um sustento", disse.
Resposta
Procurado, o Metrô afirmou que o comércio ambulante é proibido em suas dependências. A companhia ainda sustentou que disponibiliza agentes de segurança preparados para atuar em benefício dos passageiros, realizando estratégias operacionais e rondas constantes nos trens e estações, para coibir a venda irregular.
Ainda segundo a empresa, "todo vendedor ambulante identificado perde o direito a viagem e tem sua mercadoria apreendida". Em 2021, a média de apreensão mensal (até setembro) foi de 25,2 mil produtos, contra 15,1 mil em 2020 e 19,0 mil em 2019.
No celular
Mas quem não quiser andar com o comprovante de vacinação no bolso ou na bolsa, existem aplicativos de celular que mostram a vacinação. São eles:
- e-saudesp
- plataforma VaciVida
- Poupatempo Digital
- ConectSUS
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