Número de mortos em fila de leitos da UTI volta a acelerar e chega a 698 em SP

Taxa de mortes diárias tinha apresentado reduzido ritmo no estado na comparação com o último levantamento feito pela reportagem

São Paulo

A quantidade de pessoas que morreram à espera de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para atendimento de casos graves de Covid-19 no estado de São Paulo chegou a 698 desde o início deste ano, em 29 cidades de várias partes do estado, pesquisadas pela reportagem.

Embora essas mortes venham sendo registradas desde o mês de janeiro deste ano, a maior parte delas, 77,4%, o equivalente a 541, foram registradas pelos municípios entre os meses de março e abril deste ano.

Equipe de profissionais de UTI cuidam de paciente internado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (313 km de SP) - Divulgação

Esses óbitos foram de pessoas que estavam internadas em serviços públicos de saúde das cidades pesquisadas à espera de um leito de UTI. O número pode ser ainda maior, já que outras 12 administrações municipais não responderam aos pedidos de informações.

Esta foi a sexta sondagem desse tipo desde o dia 11 de março. Na última consulta às prefeituras, o quinto levantamento, feito no dia 22 de abril, 579 pessoas haviam morrido por essas mesmas condições. A diferença do dia 22 de abril até agora é de 118 novas mortes, ou 20,4% a mais no período, também em 29 cidades.

Se for analisado o histórico desde o início da sondagem, os dados indicam que a quantidade de mortes de pessoas que aguardavam por um leito de UTI voltou a crescer nos últimos 25 dias, após apresentar desaceleração.

Na primeira vez que a sondagem foi feita, no dia 11 de março, 44 pessoas haviam morrido à espera de um leito de UTI. Oito dias depois, no dia 19 de março, o número mais do que dobrou, chegando a 104 registros na segunda sondagem realizada. O maior salto foi percebido no terceiro levantamento, concluído no dia 31 de março, portanto, 12 dias após o anterior, quando foram anotadas 336 mortes, o equivalente a 223% mais.

No dia 5 de abril, quando um novo levantamento foi feito, o quarto, foram identificadas 532 mortes de pessoas à espera de um leito de UTI. O número significava um avanço de 58,3% no comparativo com a sondagem anterior. No quinto levantamento, em 22 de abril, o número de mortos em fila de leitos de UTI chegou a 579, numa evolução de 8,11% nos registros, o que demonstrou alta, porém, em ritmo menos acelerado. Agora a evolução chega a 20,5%, o que indica um repique.

Se for dividido o número de novas mortes do atual levantamento, 118, pela quantidade de dias em que elas ocorreram (25, já que a sondagem anterior foi em 22 de abril), chega-se a uma média diária de 4,7 mortes/dia na fila da UTI no período. O número é superior ao aferido na quinta sondagem, de 2,7 ao dia, cálculo que leva em conta a divisão de 47 mortes ocorridas no intervalo de 17 dias (entre os dias 5 de abril até 22 de abril).

Isso significa que o ritmo de mortes de pessoas à espera de um leito de UTI está ocorrendo 74% mais rápido agora.

A situação é reflexo direto de que a pandemia está longe de acabar e a situação ainda é muito grave, segundo o médico sanitarista Jorge Kayano, do Instituto Polis. “Com as novas cepas, mais agressivas e acometendo inclusive pessoas mais jovens, sem comorbidades, aumentam as internações, o que eleva a demanda pelas UTIs, e, em última instância, as mortes”, diz.

Medidas

Dados do governo estadual indicam que nesta segunda-feira 21.595 pacientes estão internados no estado, sendo 10.078 em unidades de terapia intensiva e 11.517 em enfermaria. A taxa de ocupação dos leitos de UTI no estado é de 78,5% e na região metropolitana, de 76,6%.

Em alguns municípios essas taxas são muito mais altas. É o caso de Bauru (329 km de SP), na região central do estado de São Paulo, que está com 97% de sua rede de UTIs para Covid-19 ocupadas. Por ser polo regional de saúde, a cidade é requisitada por municípios vizinhos que não dispõem do serviço especializado.

Outras cidades têm se valido de ampliação do número de leitos, mesma medida que vem sendo adotada pelo governo estadual desde 2020. É o que ocorre em Mauá (Grande SP), que, após registrar 14 mortos à espera de um leito de UTI, decidiu ampliar em 150% a oferta de leitos de UTI e em 122% a de enfermaria para pacientes com Covid.

Outros, como no caso de Franco da Rocha (Grande SP) e São Caetano do Sul (ABC), que decidiram manter o funcionamento de hospitais de campanha mesmo após a queda nos índices de ocupação.

Lista

  • Bragança Paulista 82
  • Bauru 80
  • Franco da Rocha 66
  • Francisco Morato 65
  • Taboão da Serra 57
  • Itaquaquecetuba 41
  • Diadema 41
  • Ribeirão Pires 40
  • Registro 34
  • Caieiras 32
  • Itapecerica da Serra 31
  • Buri 19
  • Dracena 18
  • Jandira 15
  • São Caetano 15
  • Mauá 14
  • São Carlos 9
  • Rio Grande da Serra 7
  • Barretos 6
  • Guararema 5
  • Nova Granada 5
  • São Paulo 4
  • Ribeirão Bonito 3
  • Juquitiba 2
  • Presidente Prudente 2
  • Irapuã 2
  • Tabapuã 1
  • São Bernardo 1
  • Poá 1
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