Voluntário do interior de São Paulo vence a Covid após 11 dias na UTI

Secretário de Esportes de Várzea Paulista afirmou ter visto três pessoas morreram da doença durante sua internação na unidade de terapia intensiva

São Paulo

Uma boa ação acabou se tornando uma grande dor de cabeça para Tiago Silso das Neves, 39, o secretário de Esportes de Várzea Paulista, a 45 km da capital. No início de junho, ele percorreu as ruas da cidade da região de Jundiaí fazendo arrecadação de alimentos para ajudar as famílias durante a pandemia, mas foi contaminado pelo novo coronavírus.

A alegria dele foi grande quando o trabalho contabilizou nove toneladas de alimentos, mas, cinco dias depois, a preocupação começou com o primeiro sintoma: uma dor de cabeça muito forte, por três dias seguidos. Depois, no dia 10, passou a dor de cabeça e começou a febre. Naquele momento, ele já desconfiou da Covid-19 e pediu para a mãe não o visitar. Quem acabou indo ajudá-lo foi a noiva, Cilze.

Tiago Silso das Neves, secretário de Esportes de Várzea Paulista, se recuperou do novo coronavírus - Arquivo pessoal

Na sequência, Tiago passou a ter diarreia e muita dor no corpo. Naquele momento, ele já estava havia dez dias em casa. Por isso, no dia 20 de junho, foi à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Várzea Paulista.

“Expliquei tudo o que sentia, me avaliaram e falaram que era uma gripe muito forte. Então, pensei, já que é gripe, vai passar logo. Me mandaram embora para casa, onde só fiquei deitado. No dia 21 já comecei a sentir falta de ar e vi que estava piorando. Mas eles tinham feito o teste de sangue, o mais rápido, que deu negativo. Então, fiquei mais três dias em casa. No dia 23 piorei um pouco mais e voltei ao hospital. Viram minha saturação e estava normal, e voltaram a falar que era gripe”, conta Tiago.

O secretário explica que a situação se complicou no dia 26, quando sentiu uma grande piora, com crises muito fortes de falta de ar de 40 em 40 minutos. Ao ligar na UPA, perguntou se não podiam mandar uma ambulância para pegá-lo, mas eles negaram. Como estava muito fraco, pediu para o cunhado o levar para o Hospital São Vicente de Paulo, em Jundiaí, que é referência no tratamento da Covid.

“Quando ele [o cunhado] chegou com o carro eu não aguentei e deitei na rua, de tanta falta de ar. No hospital, eles agiram muito rápido e me deram oxigênio. A minha saturação estava em 60 e já falaram que era UTI. Me levaram para a UTI e foi aí que começou minha luta. Fizeram todos os exames e me disseram que o meu oxigênio já estava pior do que todos os pacientes que estavam intubados no salão principal. A probabilidade de eu ser intubado se não reagisse em dois dias era imensa. A médica foi muito sincera.”

Na Unidade de Terapia Intensiva, ele passou a usar o cateter de alto fluxo, que joga ar quente nos pulmões, deitado de barriga para baixo o tempo todo. “Na primeira noite não reagiu, na segunda, também não, e a médica já tinha avisado a minha família que eu seria intubado. Quando ela chegou de manhã eu tinha reagido, graças a Deus!”, diz, aliviado.

Ao todo, foram 11 dias na UTI e outros 5 na unidade semi-intensiva, tratado com azitromicina e dexametasona. Ele lembra que o pior nessa fase é que não conseguia dormir. Passou dez noites em claro, acompanhando o trabalho da equipe médica. Nesse tempo, testemunhou três mortes.

“A parte psicológica é o que afeta bastante também. São famílias que são destruídas”, conta Tiago, lembrando de uma passagem especialmente marcante. “Um dia eu chorei bastante quando as enfermeiras foram fazer a chamada de vídeo para a família de um senhor de 50 e poucos anos que estava intubado, bem na minha frente. Virou o celular para a família vê-lo e ouvi a família toda chorando, pedindo para o pai voltar, a esposa pedindo para ele reagir. Foi muito emocionante. No dia seguinte esse senhor faleceu. Chorei muito de ver. É muito triste, mesmo.”

Após essa experiência nada agradável, Tiago afirma ter se dado conta da importância dos médicos e enfermeiros, que trabalham arduamente para que todos os pacientes tenham chance de se recuperar.

“Você vê a luta dos médicos, é um trabalho intenso que eles fazem, de ficar toda hora fazendo cálculos de medicação para os pacientes. Por isso, merecem ser reconhecidos, enaltecidos. Mandei fazer cinco placas e vou levar para eles, porque sou muito grato pelo que fizeram por mim.”

A alta do hospital, dia 13 de julho, foi muito festejada por ele e pela família. Mas Tiago diz ter levado um choque ao ficar sabendo que quatro familiares haviam se contaminado com o novo coronavírus, por causa dele. Como a noiva, Cilze, foi visitá-lo quando ainda não tinha a confirmação da doença, ela se contaminou e acabou passando para o filho deles, Gustavo, de 2 anos, e os pais dela, Marli e Ilídio Fernandes. Porém, ele ficou mais tranquilo ao ser informado que todos ficaram assintomáticos. O cunhado, que o levou para o hospital, não pegou

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