Bela Vista registrou maior abstenção na capital paulista; 4 em 10 deixaram de votar

Desiludidos, 38% dos eleitores do bairro da região central não foram votar no último domingo (15)

São Paulo

A desilusão com a política é o motivo que pode ter levado 4 em cada 10 eleitores da Bela Vista, na região central da capital paulista, a deixar de votar no último domingo (15). O bairro foi o que registrou o maior índice de abstenção de votos no primeiro turno da eleição municipal na capital paulista: 38%.

A maioria dos eleitores ouvidos pela reportagem do Agora demonstrou estar desiludido com o cenário político, motivo ainda maior do que o medo de sair para votar em meio à pandemia de Covid-19.

"Não fui e não pretendo ir votar no segundo turno. Aliás, prefiro pagar a multa", diz, convicto, o auxiliar de zeladoria desempregado Pedro Gomes, 47 anos, que tirava uma cópia de seu currículo nesta segunda-feira (16), um dia depois que os eleitores da capital colocaram o prefeito Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pelo Executivo.

Pedro Gomes, 47, morador da Bela Vista (região central), não votou no primeiro turno e pretende fazer o mesmo no segundo turno - Rivaldo Gomes/Folhapress

Natural de Presidente Dutra, na Bahia, Gomes conta que transferiu o título para São Paulo, em zona eleitoral da Bela Vista, bairro onde mora desde 2006. "Cansei da demagogia dos políticos. Não quero fazer parte desse jogo. A última eleição que votei foi para presidente, mas me desencantei", afirma. A mulher e o filho de 19 anos, no entanto, votaram.

Para o cientista político Vítor Oliveira, diretor da consultoria Pulso Público, alguns fatores estruturais contribuíram para o alto índice de abstenção na capital nesta eleição, tais como o fato de o voto, embora obrigatório, não causar punição tão grande.

A multa para quem não comparece é de R$ 3,51 por turno. "Ao longo do tempo, as pessoas perceberam que o custo da multa é relativamente baixo. Ou seja, o voto é obrigatório, só que não", diz o especialista.

Outro motivo que pode ter contribuído para o eleitor deixar de votar nessas eleições foi a facilidade em justificar o não voto pelo aplicativo. "O processo de recadastramento eleitoral também foi outro fator estrutural importante. Por exemplo, tem gente que morreu, mas ainda não saiu do sistema", aponta Oliveira.

Moradora há 27 anos no bairro, a comerciante Silvia Ramos, 48, faz parte do pelotão da Bela Vista que não votou no primeiro turno. "Não tive tempo. Não tinha ninguém para deixar no comércio, que ficou movimentado o dia inteiro. Ando triste e desanimada com a política", diz Silvia, que ainda tem dúvidas se votará no segundo turno. "Se sobrar um tempo, talvez vá".

Zelador fez questão de votar

O zelador de condomínio residencial João Maria, 59, teve atitude contrária a de seus vizinhos de bairro. Logo cedo, por volta das 7h30, estava no colégio particular onde vota habitualmente. "Fico ansioso", diz ele.

João Maria acredita que há outro motivo para a alta abstenção: muita gente perdeu emprego com a pandemia e voltou para suas cidades de origem. "Aqui na Bela Vista temos muitas pensões, com gente de fora. Só no residencial que cuido, de 169 inquilinos, metade saiu, o que pode ser um dos motivos pelo alto número de ausentes na votação", avalia.

Para o cientista político, a pandemia, tanto do ponto de vista econômico quanto da própria doença, contribuiu para a abstenção de votos no país. O número de brasileiros que não compareceram às urnas foi o mais alto do Brasil nos últimos 20 anos. "O problema atingiu todas as capitais brasileiras", afirma Oliveira.

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