Atletas procuram espaço aberto em SP para treinar e nocautear a tensão da pandemia

Treinos em locais arejados e com menor aglomeração são formas de minimizar risco de contaminação

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São Paulo

Os sacos de pancada e o ringue ganharam outro equipamento essencial para a prática de boxe em 2020: a máscara. E, pelo receio de contaminação com a Covid-19, os atletas passaram a buscar também academias em espaços abertos, com maior ventilação e menor aglomeração.

Praticante da modalidade há dois anos, o professor Mario Carneiro, 38, diz que teve receio de voltar a praticar quando as atividades foram liberadas, mas mudou de ideia quando viu a nova área de treinos da Escola de Boxe do Esporte Clube Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

"Aqui é uma maravilha, tanto pela questão do espaço, que é grande, quanto por ter um ambiente mais arejado, com ventilação natural. Ainda assim, temos que ter muito cuidado: usar a máscara direto, álcool em gel, higienizar as luvas e lavar a roupa do treino assim que chegar em casa", afirma Carneiro.

No local, segundo o treinador Messias Gomes, 64, houve inclusive aumento da procura pela mudança de espaço. Antes, a prática era realizada em uma sala fechada, mas a mudança veio há cerca de um mês. "Vemos que, aqui, as pessoas ficam mais à vontade." A escola recebe alunos de 10 a 80 anos.

Praticantes treinam no espaço da Escola de Boxe Esporte Clube Pinheiros (zona oeste de SP), que passou para um lugar maior e mais arejado por causa da pandemia do novo coronavírus - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Além do espaço, o boxe na pandemia tem outra mudança: não tem a prática de sparring, que é o momento em que os alunos treinam em duplas. Para treinar os golpes, só com as manoplas –almofadas que os treinadores seguram para receber os socos.

O instrutor Fernando Menoncello, 39, fundador do projeto Das Ruas Para os Ringues, diz que também tem percebido aumento da procura. Ele dá aulas em quadras de esportes na favela Cruzeirinho, zona norte, e em um albergue de acolhimento de pessoas em situação de rua na zona leste.

"Na comunidade, os treinos são distanciados exatamente para evitar o contágio. Sinto que a rapaziada que treina por condicionamento, recreação, prefere o ambiente aberto enquanto não tem vacina porque se sentem mais seguros."

No Projeto Social Garrido Boxe, embaixo do viaduto Alcântara Machado, na Mooca, zona leste, os protocolos de segurança também são lei. "Exigi que quem viesse treinar trouxesse luvas e máscara para não ter contato direto com as outras pessoas. Tem muita gente da região que é morador de rua e não tem como comprar álcool gel", afirma Nilson Garrido, 62, fundador do projeto.

Pela configuração do espaço, os treinos lá sempre foram ao ar livre, mas a diferença tem sido a procura maior nos últimos meses, de acordo com Garrido. Pessoas que praticavam em academias fechadas passaram a preferir o local, ele afirma.

Para diminuir a chance de aglomeração, ele estendeu o horário de funcionamento do espaço, evitando que muitas pessoas fiquem juntas ao mesmo tempo. Das 6h às 22h, diariamente passam por lá cerca de 15 pessoas. "Dentro de academias, que são locais fechados, não aconselho que ninguém faça boxe ou outro trabalho de contato. Um local aberto é melhor."

ESPORTE AJUDA A EXTRAVASAR ESTRESSE DA QUARENTENA

Se não estivéssemos vivendo uma pandemia, afirma a publicitária Fernanda Costa, 42, talvez muitas coisas estivessem acontecendo da mesma forma. A pressão psicológica da quarentena, contudo, muda a forma como se encara a rotina.

"Talvez estivesse trabalhando de qualquer maneira, muito provavelmente num lugar fechado e muitas vezes até sem sair para lazer, mas o fato de não poder faz a nossa cabeça ficar pior. Vir aqui é uma fuga", diz ela sobre o treino de boxe.

Esmurrar os sacos de pancada têm ajudado a aliviar o estresse da quarentena. "Estava muito ansiosa para voltar", afirma Costa, que pratica a modalidade na Escola de Boxe do Esporte Clube Pinheiros.

Para a estudante Maria Clara Gerazo, 17, também praticante no Clube Pinheiros, o treino é uma terapia. "Faz bem não só para o corpo, mas também para o psicológico. E, além disso, de ser um esporte, também é uma família."

Ela diz que, durante a paralisação dos treinos até tentou manter o hábito em casa, mas não conseguiu. Como resultado, sentiu muitas mudanças no condicionamento físico e no bem-estar. "Acho que um dos motivos para isso foi ter ficado parada. Agora, meu astral tem melhorado mil vezes."

Segundo Nilson Garrido, fundador do Projeto Social Garrido Boxe, os treinos também têm ajudado os praticantes de lá. Muitas pessoas estavam procurando o local porque relatavam que se sentiam estressadas pelo confinamento em casa. "Com os treinos, muitos já falaram que melhoraram até a relação em casa com a família."

Gabriel Silva, 11 anos, começou a praticar o esporte no projeto Garrido Boxe há cerca de 20 dias. O menino diz que era “muito briguento” antes de começar a prática, mas que agora tem ficado mais disciplinado. “Gosto muito porque é um esporte que ensina a pessoa a ser melhor.”

A publicitária Fernanda Costa, 42 anos, treina boxe no Clube Pinheiros, para aliviar o estresse da pandemia - Mathilde Missioneiro/Folhapress

FASE AMARELA PERMITE PRÁTICA SEM CONTATO FÍSICO

Com a regressão da cidade para a fase amarela do Plano São Paulo, as atividades permitidas são as que não têm contato físico, segundo a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Além do boxe, outras lutas, como karatê e muay thai estão liberadas. Nesses casos, as etapas de treinamento que podem ter contato físico são proibidas.

O protocolo da secretaria, contudo, indica que são necessárias algumas medidas de proteção para minimizar a chance de contágio da Covid-19. Disponibilização de álcool gel, sabonete e água são algumas das medidas de higienização. As academias também devem oferecer dispositivo para limpeza e secagem de calçados na entrada.

O uso da máscara é obrigatório no local de treinamento, mas pode ser retirada durante o treino, afirma o protocolo da pasta. A indicação também é de que o equipamento seja trocado quando estiver úmido.

Os praticantes também devem levar os próprios recipientes para beber água, evitando usar bebedouros, mas evitar carregar mochilas. O uso de celulares durante a prática também é desestimulado.

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