Os institutos Butantan, de São Paulo, e Vital Brazil, do Rio de Janeiro, estão desenvolvendo pesquisas com soro a partir do plasma do cavalo para tratamento de pacientes com a Covid-19.
Se apresentarem a eficácia esperada na próxima etapa de testes, os soros podem ser os primeiros medicamentos eficazes no tratamento da doença. Países como Costa Rica, Argentina e México também estão desenvolvendo o soro.
As técnicas utilizadas pelos laboratórios públicos são parecidas com a produção do soro antirrábico, experiência acumulada que facilitou o desenvolvimento da versão contra a Covid em menos de um ano.
Segundo a diretora de Inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, é uma tecnologia brasileira com mais de um século de experiência, com resultados positivos e não é “absurdamente cara”. “Até hoje não foi desenvolvido um antiviral específico para o coronavírus e o soro pode ser uma alternativa”, disse.
A diferença nas pesquisas está no modo como usam o vírus na produção do soro. O Butantan utiliza o vírus inativado por radiação, enquanto o Vital Brazil faz uso da proteína S, que estimula resposta imune. Nas duas pesquisas, foram escolhidos dez cavalos, nos quais foram aplicados o vírus inativo ou a proteína S para estimular a produção de anticorpos.
O soro é feito com o plasma retirado do sangue dos animais, que produzem muito mais anticorpos que os humanos, podem doar mais sangue por serem de grande porte e não têm doenças neurodegenerativas.
O diretor industrial e científico do Vital Brazil, Eduardo Ribeiro da Cunha, explicou que é feita a coleta de sangue do animal e separado o plasma. “As hemácias que não nos interessam são devolvidas para o cavalo que precisa delas. Ele entra em um mês de descanso [até a próxima coleta]”, afirmou.
Cunha disse que o plasma do cavalo é usado no mundo inteiro na fabricação de soros e é recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Ele explicou que o plasma, assim que chega ao Vital Brazil, passa por um processo para evitar rejeição em humanos.
Os laboratórios informaram que o soro teve bons resultados nas fases de testes in vitro e em camundongos. Eles foram enviados à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que solicitou a realização de um teste que consiste em induzir a doença no animal e fazer tratamento com o soro. Se a resposta for bem-sucedida, a agência poderá autorizar testes em humanos.
O Butantan vai realizar o teste em um laboratório NB3 (de segurança máxima) do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo). Nesta semana, os pesquisadores já começaram a aclimatização dos animais para ter certeza de que estão com saúde boa para iniciar os experimentos.
A expectativa é que o resultado saia ainda neste mês e que, e seguida, a Anvisa autorize os testes em humanos. “Precisa ter certeza se não é tóxico, se vai ter efeitos positivos e negativos. Ela [Anvisa] tem uma lista de testes e exigências que a gente tem que fazer”, disse a diretora do Butantan.
O diretor do Vital Brazil disse que está está trocando protocolos com a Anvisa, informando que não vai conseguir fazer o teste em animais antes dos humanos devido a problemas, como a falta de um animal transgênico com receptores de humanos e dificuldade de obter laboratórios NB3.
Apesar disso, ele garante que a Anvisa não está atrasando a pesquisa e tem sido parceira no processo. De acordo com ele, em maio completa-se um ano que o instituto está desenvolvendo o soro, e que isso é raro. “Você demora de cinco a dez anos para produzir um soro. A gente está queimando etapa porque está usando uma plataforma que usa há muitos anos. A pandemia exigiu”, enfatizou.
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