O primeiro dia da medida que limita o funcionamento de serviços considerados essenciais até às 19h em Santo André e São Bernardo do Campo (ambas no ABC), neste sábado (20), foi marcado por ruas praticamente vazias.
Decretada na sexta-feira (19) pelos prefeitos de Santo André, Paulo Serra, e de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, ambos do PSDB, a nova medida tem o objetivo de tentar frear o aumento nas contaminações pelo coronavírus nas duas cidades, que juntas somam mais de 1,5 milhão de habitantes. As regras valem enquanto durar a fase emergencial, inicialmente prevista para terminar em 30 de março.
A reportagem do Agora esteve em ambas as cidades para conferir cumprimento da medida restritiva. Era 19h em ponto, e na rua Marechal Deodoro, uma das principais vias de comércio popular de São Bernardo, cavaletes interditavam o trânsito na via. Apenas pedestres e moradores locais podiam passar pela rua. “A coisa tá feia. Só vamos liberar a via quando as coisas melhorarem”, disse um GCM (Guarda Civil Municipal).
As farmácias eram as únicas que estavam abertas. “É estranho, pois estava acostumada a ver a Marechal cheia”, disse a estudante Júlia Moreira, 24 anos, que fazia caminhada pelo bairro.
Próximo dali, um posto de gasolina que fica na rua Américo Brasiliense tinha acabado de apagar as luzes e colocar cones de aviso quando o motoboy Edilson Souza, 38, decidiu colocar R$ 10 na moto. Já era 19h10. Resultado: não deu certo. “Não sabia que ia fechar mais cedo”, disse o rapaz.
De acordo com boletim diário de Covid-19 do governo estadual, São Bernardo do Campo tem 48.713 casos confirmados de coronavírus, com 1.717 óbitos até o momento. Os leitos de enfermaria estão 90% preenchidos e as UTIs geral e de adulto estão 89% ocupadas. São 454 pessoas internadas na rede municipal de saúde. A taxa de isolamento social da semana está em 44%. Em relação à vacina, a cidade tem 89.295 doses aplicadas, sendo 65.282 com a primeira dose e 24.013 com a segunda.
Em Santo André, a rua General Glicério, no centro, também estava deserta por volta das 19h30. As únicas pessoas na rua aguardavam a chegada de ônibus. Era o caso do estudante Luiz Gustavo Borges, 25 anos. “Ruas mortas e comércio fechado parecem cenas de filme de terror”, afirmou o jovem.
O calçadão da Oliveira Lima, famoso pelo comércio popular com os vendedores anunciando promoções, agora convive com o silêncio típico de uma madrugada. “Talvez assim as pessoas se conscientizem do perigo da doença”, disse Thiago Marques, 27 anos, que trabalha em um mercado no centro.
Por meio de nota, a secretaria de Saúde de Santo André informou que a cidade tem hoje 41.347 casos confirmados, entre eles 1.377 óbitos. São 1.098 pessoas internadas atualmente em hospitais públicos e privados com suspeita ou confirmação de Covid-19. As taxas de ocupação dos leitos de enfermaria e UTI estão em 91% e 90%, respectivamente. A taxa de isolamento social da semana está em 42%. Santo André já tem 89.061 pessoas imunizadas. Dessas, 64.098 receberam a primeira dose, enquanto 24.963 foram imunizadas com a segunda aplicação.
Apelo dos prefeitos
Na quinta-feira (18), os prefeitos do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC decidiram solicitar ao governo estadual, sob a gestão de João Doria (PSDB), que promova o lockdown em toda a região metropolitana de São Paulo. O objetivo é frear a contaminação pelo novo coronavírus em toda a Grande SP, onde o sistema de saúde está próximo do colapso.
“Só é possível implementar um lockdown com envolvimento e ação direta do governo estadual. Até pelo fato de que nós temos uma dependência em relação à capital. Não há como implementar sem a capital embarcar, e sem que o governo estadual adote alguma posição em relação a isso”, disse na ocasião o presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB).
Ao todo, 19 das 39 prefeituras da Grande São Paulo pedem que o governo estadual promova o confinamento da população por ao menos uma semana, paralise trens e ônibus intermunicipais, e auxilie na fiscalização e no cumprimento da medida com o apoio da PM e dos órgãos de vigilância estaduais.
Questionado sobre o apelo feito na semana passada, o governo estadual afirmou na quinta-feira passada ter disponibilidade para o diálogo permanente e apoio aos prefeitos dos 645 municípios. "O Plano São Paulo prevê integral autonomia para que prefeitos adotem medidas mais restritivas do que as normas estabelecidas pelo estado", disse em nota.
Segundo a gestão Doria, as administrações municipais podem, a qualquer tempo, ampliar restrições de circulação e demais medidas da quarentena, sem depender de norma editada pelo estado, de acordo com o cenário local de evolução da pandemia. "A medida já foi adotada por municípios como Araraquara, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, com apoio do governo de SP", afirmou na semana passada.
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