Descrição de chapéu Coronavírus

Diretor de hospital vira réu por falta de equipamentos de proteção em SP

Justiça aceita denúncia do Ministério Público contra gestor de unidade municipal na zona leste da capital paulista

São Paulo

Queixas de descumprimento de medidas sanitárias preventivas contra a Covid-19, como a falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e ambientes sem ventilação, fizeram com que a Justiça aceitasse uma denúncia, feita pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo), contra José Carlos Ingrund, diretor do Hospital Municipal Doutor Cármino Caricchio, no Tatuapé (zona leste da capital paulista).

Além disso, Ingrund e uma ex-superintendente da extinta AHM (Autarquia Hospitalar Municipal) também são suspeitos do crime de prevaricação (quando funcionário age contra a administração pública).

Nenhum advogado de defesa havia sido constituído por ambos, segundo consta no processo, até a publicação desta reportagem. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo pode assumir o caso, a partir desta sexta-feira (23), caso nenhum advogado seja apresentado pelos réus.

O Agora enviou mensagem ao diretor do hospital, por meio de uma rede social, solicitando o contato de seu defensor, ou um posicionamento sobre o caso. Ele porém, pediu para que a reportagem procurasse a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde.

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou estar à disposição das autoridades "para o que couber", acrescentando que o diretor permanece como gestor da unidade de saúde, onde trabalha há mais de 40 anos.

A promotora Celeste Leite dos Santos afirmou em sua denúncia, do último dia 4, que imagens enviadas ao Ministério Público mostram funcionários sem equipamentos adequados no momento em que realizam a intubação de um paciente, em abril do ano passado, no Hospital Municipal do Tatuapé.

Os funcionários da saúde, continua a promotora, não trajavam aventais em um ambiente com grande quantidade de aerossóis (partículas no ar) e baixa circulação de ar. “Os profissionais deveriam estar utilizando gorro descartável, óculos de proteção ou protetor facial, máscara N95/PFF2 ou equivalente, avental e luvas de procedimento”, diz trecho da denúncia.

Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste de São Paulo; Justiça aceita denúncia contra o diretor da instituição - Rivaldo Gomes - 8.abr.20/Folhapress

A promotora acrescentou ainda que os funcionários do hospital chegaram a usar os mesmos equipamentos de proteção, com os quais estavam em consultas anteriores, com novos pacientes. Além disso, o ambiente de trabalho também não estaria devidamente limpo.

Outro ponto destacado na denúncia é o fato de a unidade manter pacientes muito perto uns dos outros, mesmo com o hospital contando, em abril do ano passado, com 392 leitos, dos quais somente 232 eram usados, representando 59% da capacidade total da unidade. “Desta feita, era possível realizar uma melhor distribuição dos pacientes internados”, ressalta a promotora.

A promotora acrescentou ainda que a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) para pacientes com Covid-19 “foi totalmente improvisada”, no primeiro e segundo andares do hospital do Tatuapé, para funcionar como uma ala de atendimento a casos graves da doença.

O Ministério Público também menciona o caso de uma enfermeira que foi flagrada circulando, com o avental sujo de sangue, logo após a morte de um paciente, ilustrando o descumprimento de procedimentos recomendados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), tornando o hospital “um ambiente de risco tanto para os pacientes, internados no local, quanto para os próprios profissionais de saúde atuantes.”

Durante vistoria feita na unidade, ainda segundo a promotora de Justiça, o diretor não apresentou documentos sobre o fluxo de funcionamento e de procedimentos sanitários adotados no hospital.

Pacientes sem confirmação de infecção com o novo coronavírus, ainda segundo a denúncia do MP-SP, eram mantidos em um mesmo ambiente com pessoas que haviam testado positivo para a doença.

Ainda de acordo com a promotora de Justiça, cinco funcionários foram irregularmente transferidos do hospital, após a situação precária da unidade ser denunciada por eles.

O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) acolheu a denúncia da Promotoria no último dia 12, mesma data em que intimou os suspeitos, dando prazo para que se defendam das denúncias.

Resposta

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou por meio da SMS (Secretaria Municipal da Saúde) ter dado informações e prestado "esclarecimentos necessários" à Justiça e ao Ministério Público., acrescentando que "está à disposição das autoridades para o que couber."

"A SMS acrescenta que, desde o início da pandemia, nos equipamentos da rede municipal, não faltaram equipamentos de proteção Individual aos profissionais de saúde da rede municipal, que por todo o período mantiveram o empenho em salvar vidas", diz trecho de nota.

A pasta acrescentou apurar todos os fatos e que "não há decisão judicial determinando o afastamento do profissional."

"Ele está há mais de 40 anos na unidade. Começou como interno, passou a residente e, logo após, prestou concurso público onde foi aprovado e se dedica à profissão na unidade hospitalar", diz trecho de nota.

O governo municipal disse ainda que Ingrund "nunca se ausentou seguer um dia de trabalho", desde o início da pandemia do novo coronavírus, participando diariamente de reuniões com o Gabinete de Crise, além de duas reuniões diárias com o pronto-socorro da unidade do Tatuapé, "para tomada de decisões."

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