Sem manutenção, motos do Samu em São Paulo estão paradas

Contrato com empresa que fazia os reparos nas motolâncias venceu em julho e não foi renovado

Elaine Cranconato
São Paulo

Motocicletas usadas para apoio de resgates do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) na capital estão sendo encostadas por falta de manutenção.

Motos do Samu da cidade de São Paulo estão encostadas por falta de manutenção - Arquivo pessoal

O problema ocorre desde o início de julho, quando a Secretaria Municipal de Saúde, da gestão Bruno Covas (PSDB), não renovou o contrato com a empresa que reparava as motocicletas.
A prefeitura não prorrogou o acordo, como fez em vários aditivos contratuais realizados desde 2013 e publicados no Diário Oficial.

Ao todo, segundo a própria prefeitura, o Samu conta com 36 Urams (Unidades Rápidas de Atendimento com Motocicletas). 

Na segunda-feira passada (2), 32 delas estavam paradas, das quais, 30 na ex-sede administrativa do Samu no Bom Retiro (centro), e duas na base da avenida do Estado (centro), segundo funcionários.

A reportagem esteve no prédio do Bom Retiro e viu dezenas de motocicletas estacionadas sem uso.
Alessandro Santos, gerente da Diamar Motos, empresa contratada pela prefeitura para realização da manutenção, confirmou o encerramento do contrato. “Deixamos de realizar os serviços no início de julho. O contrato foi celebrado em 2013”, diz.

Segundo funcionários do Samu ouvidos pelo Agora, a ordem do comando da frota é recolher as motocicletas que quebrarem nas ruas. “Isso porque, muito em breve, a prefeitura pretende terceirizar o serviço”, afirmou um dos servidores. A gestão Covas não confirmou a informação.

Por dia, em um plantão entre as 7h e as 19h, teriam de rodar 18 equipes —cada uma composta por duas motolâncias. O que, segundo os profissionais do Samu, não ocorre na prática.

Somente nos primeiros três dias da semana passada, circularam apenas quatro (segunda e terça-feira) e oito motocicletas (quarta-feira), segundo relataram funcionários. 

Em média, uma motolância chega em seis minutos a uma ocorrência para o primeiro atendimento. Segundo os socorristas, a agilidade ajuda, principalmente, em casos de parada cardíaca.

Atendimentos em queda

O número de atendimentos pelo Samu no primeiro semestre deste ano foi o menor desde 2013 na cidade de São Paulo.

Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostram que, em comparação com igual período do ano passado, a queda foi de 3,7%. 

No comparativo com o mesmo período de 2013, a redução foi de 24%. 

Até junho deste ano, foram realizados 170.977 atendimentos, contra 177.628 até junho de 2018 e 226.178 até junho de 2013.

Além disso, os números mostram (veja abaixo) que, mês a mês, no comparativo com 2018, vem diminuindo o número de atendimentos, evidenciando tendência de queda. A redução é ainda mais acentuada a partir de abril —de 5,3%, em comparação ao mesmo mês de 2018— após a reorganização do serviço imposta pela prefeitura. A queda chega a 6% em maio e a 5,9%, em junho, em relação aos mesmos meses do ano anterior.

Procurada, a prefeitura, gestão Bruno Covas (PSDB), não se pronunciou. (William Cardoso e Marcelo Mora)

Total de chamados no primeiro semestre

Nas Ruas 10.09 Samu Gráfico 1
Arte Agora

 Chamados por mês em comparação ao ano passado

Arte Agora

 

Respostas

A Prefeitura de São Paulo disse que o Samu tem 36 motos habilitadas junto ao Ministério da Saúde.

A nota da gestão Bruno Covas (PSDB), porém, não respondeu a maioria dos questionamentos feitos pela reportagem. Entre os quais, se houve o rompimento do contrato de manutenção e se confirmava a extinção do serviço realizado pelas motocicletas.

Também não disse quantas motolâncias circulam diariamente nas ruas e o custo mensal da manutenção dos veículos. E nem quantas estão paradas. 

Apenas se limitou a informar que as motolâncias  cumprem importante papel como primeira resposta em emergência. 

“Na capital, as motos do Samu são operadas por profissionais de enfermagem habilitados e em complemento por profissionais que participam da Operação Delegada, por meio da parceria com o Corpo de Bombeiros”, diz a nota.

O Ministério da Saúde diz, em nota, que repassa mensalmente ao município de São Paulo R$ 252 mil para custear o serviço prestado por motolâncias. O dinheiro é suficiente para comprar 16 motos novas iguais às usadas pelo Samu na capital.

“A manutenção das 36 motocicletas, neste caso, é de responsabilidade da administração local”.

Segundo o ministério, a prefeitura tem total autonomia para adquirir veículos para ampliação ou renovação da frota, a partir das necessidades.

O governo federal afirma ainda que, ao todo, a cidade recebeu do governo federal 80 motolâncias em 2009. Porém, em 2015, a pedido da gestão local, 31 foram remanejadas para outros municípios do estado e outras 13 tornaram-se reserva técnica, ou seja, podem substituir outras unidades quando há problemas de manutenção, por exemplo. 

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