Uma adolescente de 16 anos ficou cega do olho esquerdo, segundo sua mãe, após ser atingida por uma bala de borracha durante a dispersão de um baile funk, por volta da 1h deste domingo (10), em Guaianases (zona leste da capital paulista). A jovem teve alta nesta segunda-feira (11), após ser submetida a uma cirurgia no hospital São Paulo.
A vítima pretende registrar uma denúncia na Corregedoria da Polícia Militar, contra policiais militares do 28º Batalhão, nesta quarta-feira (13).
Em nota, o hospital São Paulo afirma que a jovem sofreu "um trauma muito grave em um dos olhos". A instituição acrescentou que a adolescente passou por cirurgia, após a qual o olho esquerdo ficou "bastante comprometido."
Segundo a mãe da vítima, uma manicure de 32 anos, a filha saiu de casa com 14 amigos, no fim da noite de sábado (9), em Itaquaquecetuba (Grande SP) com direção à capital paulista. O grupo pretendia ir a um baile funk, perto da estação Guaianases, da linha 11-coral da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), onde desembarcou. "Mas quando eles chegaram perto do baile, minha filha me disse que a polícia já estava dispersando as pessoas", afirmou a manicure.
Os jovens retornaram à CPTM, que já havia fechado as operações por conta de ser mais de 1h. Por causa disso, afirmou a manicure, sua filha e os outros jovens decidiram esperar a reabertura da estação perto de uma adega. "Mas a polícia continuou jogando bombas [de efeito moral] e a atirar [com balas de borracha]. Isso fez minha filha e os amigos dela se perderem quando correram", acrescentou a mãe da vítima.
Por fim, a jovem encontrou um colega e ficou com ele. Ambos retornavam para a adega quando, ainda segundo a manicure, uma viatura da PM passou ao lado da adolescente e atirou contra a jovem com uma arma de bala de borracha, atingindo-a na região do olho esquerdo. "O amigo de minha filha pediu ajuda para policiais que estavam passando na rua, mas eles riram de minha filha e falaram para ela e o amigo dispersarem senão iriam apanhar", afirmou a manicure.
A jovem foi socorrida após o dono da adega acionar um carro de aplicativo de transporte de passageiros. Ela passou por dois hospitais, até que foi encaminhada ao hospital São Paulo. Na unidade de saúde, ela foi submetida a uma cirurgia de reconstrução do globo ocular nesta segunda-feira.
Segundo o documento de alta médica da adolescente, assinado pelo médico Franklin Oda, a adolescente foi vítima de trauma ocular no olho esquerdo "com bala de borracha".
Trauma psicológico
A mãe da adolescente disse que, por conta do ferimento, sua filha não quer mais sair de casa e chora muito. Além disso, o curativo precisa ser trocado de hora em hora e ainda há a possibilidade de que ela precise retirar o globo esquerdo. "O médico fez a cirurgia para ela não perder o olho. Mas, se o corpo rejeitar, ela vai ter que tirar", explicou a manicure em prantos.
Esta foi a segunda vez em que a jovem foi ao baile da zona leste, acrescentou sua mãe. "Queremos que os policiais que fizeram isso com minha filha paguem pelo crime que cometeram", desabafou.
Resposta
A Polícia Militar afirmou que, no dia em que a jovem foi ferida, policiais do 28º Batalhão realizavam a operação "Noite Tranquila", com o intuito de coibir casos de perturbação do sossego, quando precisou usar "técnicas de controle de distúrbios para conter a multidão."
Até o fim da ocorrência, acrescentou a corporação, não havia relato de pessoas feridas." "Mas, ao tomar conhecimento do caso citado pela reportagem, o Comando do 28º Batalhão Metropolitano instaurou procedimento apuratório para investigar as circunstâncias [do caso]", diz trecho de nota.
A corporação ainda disse que, até o momento, nenhum registro sobre feridos foi feito tanto junto à PM como à Polícia Civil.
A Ouvidoria das polícias afirmou que a vítima irá prestar depoimento no órgão nesta quarta-feira (13). "Estou instaurando um procedimento nesta terça [12] e vou solicitar para que a Corregedoria da PM, e não o batalhão de origem dos policiais, apure o caso", afirmou o ouvidor Benedito Mariano.
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