Roubos de veículos podem acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, mas os boletins de ocorrência registrados nas delegacias da capital paulista de janeiro a outubro mostram que são mais frequentes de sexta-feira a domingo (46%) e das 18h à meia-noite (52%). Os BOs também apontam que grandes avenidas da zona leste lideram as estatísticas desse tipo de crime. Particularmente, a avenida Aricanduva.

Os dados são do site de transparência da SSP (Secretaria de Segurança Pública, gestão João Doria (PSDB). Entre as 10 vias com mais roubos de veículos em SP, as quatro primeiras ficam na zona leste. Além da Aricanduva, compõem a lista as extensas Sapopemba, Ragueb Chohfi e Jacu-Pêssego.

A avenida Aricanduva tem fácil acesso a importantes rodovias e corta uma região repleta de desmanches. A via chega a ter três assaltos em um intervalo de menos de oito horas, das 13h30 às 21h, como ocorreu no dia 17 de abril. De forma geral, ladrões atuam por lá na volta do trabalhador para casa.

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Sete em cada dez roubos foram registrados das 18h às 23h59. Um em cada cinco assaltos ocorreu entre os números 8.000 e 9.000, já em São Mateus. Outro ponto crítico é em frente ao Shopping Aricanduva.

Quem aponta a arma para a cabeça da vítima é apenas um componente de uma complexa engrenagem que envolve também aqueles que buscam o veículo no lugar onde ficou “esfriando” (aguardando para saber se foi ou não rastreado), os cortadores (pessoas que retalham as partes do carro) e os comerciantes ilegais, que vendem as peças em desmanches ilegais.

O delegado Pablo Baccin, da 1ª Divecar (Divisão de Investigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas) reforça uma antiga recomendação para quem não quer ser alvo dos ladrões nem estimular a indústria do crime. “A pessoa compra peça sem a devida procedência, pela internet, e vem desacompanhada de nota fiscal. Acaba virando vítima dessa situação”, afirma Baccin.

‘DESLIGUEI A CHAVE E ENTREGUEI', DIZ ANALISTA

O analista de processos Raphael Goes Ito, 37 anos, viveu em outubro os cinco minutos mais longos de 2020, às vésperas de sair de férias. Na volta para casa, ele até então costumava fazer corridas de Uber para complementar a renda e pagar a prestação do carro. Foi assim que acabou assaltado no Jaraguá (zona norte).

Ito havia acabado de deixar um passageiro nas proximidades do Shopping Cantareira, por volta das 20h, e fechava as janelas dos vidros traseiros do seu Prisma, quando foi abordado por um trio de criminosos. “Um deles falou ‘perdeu, fica tranquilo que a gente é ladrão profissional e não quer machucar ninguém’. Desliguei a chave do carro e entreguei na mão”, diz.

Cercado pelos criminosos dentro do próprio veículo, o analista foi obrigado a entrar em um parque e ouviu de um dos ladrões para levantar e correr na direção contrária a do carro, sem olhar para trás.

Ito conseguiu contato com a sua mulher, que chamou um Uber para resgatar o marido. Ao circular pelas proximidades, o analista de processos avistou seu Prisma. O bloqueador havia travado o carro a cerca de 500 metros de onde foi deixado pelos ladrões. Desde então, ele não faz mais corridas pelo aplicativo.

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‘A GENTE SE SENTE COMO RATO’, DIZ VÍTIMA

O autônomo Luís Felipe de Oliveira, 29 anos, conta que foi atraído para uma emboscada no início deste ano em São Miguel Paulista (zona leste de SP).

Depois de negociar a venda de mercadorias de sua loja, seguiu até o endereço combinado e se deparou com três ladrões armados, que queriam, na verdade, o seu veículo, um Astra. “A gente se sente como um rato, com um gavião de um lado e uma cobra do outro.”

O assalto aconteceu em uma travessa da avenida do Imperador, por volta das 20h. “Tinha comprado uma casa e pensei em me desfazer do que tinha na loja para quitar o que devia. Era a única oportunidade que eu tinha”, afirma Oliveira.

O autônomo diz que tentou negociar a entrega dos produtos em um lugar mais movimentado, mas os ladrões, disfarçados de clientes, insistiram na ruazinha com terreno baldio. “Estava com outra pessoa e fomos levados para o meio do mato, onde seguraram a gente por um tempo”, diz o autônomo. “Ainda tentei argumentar, mas não teve jeito. Disseram que eu era quinto só naquele dia”, conta.

O carro de Oliveira foi encontrado tempos depois a menos de 500 metros do local do crime. Segundo o autônomo, os três assaltantes aparentavam ter, no máximo, 23 anos.

SSP AFIRMA QUE HOUVE REDUÇÃO NOS CRIMES

A SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública), sob a gestão João Doria (PSDB), afirma que as ações policiais resultaram na queda de 35,8% dos roubos de veículos e 28,9% dos furtos de veículos, de janeiro a outubro, se comparado a 2019. Vale ressaltar, porém, que neste ano a pandemia restringiu a circulação de pessoas.

Segundo a SSP, 12.731 veículos foram recuperados no ano. “Na área das 5ª, 7ª e 8ª Seccionais, responsáveis pelas vias citadas, também houve queda de 35,9% e 30,9% dos roubos e furtos de veículos, respectivamente, e recuperação de 5.055 automóveis, no período analisado”, afirma.

A secretaria diz que a PM faz policiamento ostensivo e preventivo na região e que a Polícia Civil faz diversas ações, incluindo desmanches, prendendo 322 pessoas em flagrante e por cumprimento de mandados relacionados a roubos de veículos na zona leste. (WC)

BAIRROS COM MAIORES ÍNDICES

PERIODICIDADE

Fonte: Secretaria da Segurança Pública