Descrição de chapéu Centro

Anhangabaú, no centro de SP, vira parque dos patins mesmo antes da abertura oficial

Vários grupos de patinadores passaram a frequentar o espaço nas últimas semanas

São Paulo

Alvo de críticas por alguns, o concreto liso do vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, tem atraído cada vez mais patinadores à região central da capital. Alguns já se referem ao local como o “parque dos patins”.

Antes da reforma, iniciada em 2019 na gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), esse grupo não costumava frequentar o local.

Patinadores usam os corredores laterais do vale do Anhangabaú para prática do esporte - Ronny Santos/Folhapress

“Muitos evitavam a região pela questão da segurança mesmo. Hoje está bem mais tranquilo”, afirma o programador Daniel Neitzel, 29 anos.

O primeiro espaço aberto foi a pista de skate de 981,3 metros quadrados em formato de arquibancada próximo ao viaduto Santa Ifigênia, aberta no dia 22 de fevereiro.

A presença dos patinadores é mais recente e ocorreu quando as laterais do vale foram abertas, em março. Elas formam uma espécie de corredores laterais.

Além da pista de skate e a rua São João, que atravessa o vale, o Anhangabaú conta agora com um posto da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

O restante do espaço ainda não tem data para ser reaberto, segundo a prefeitura.

Mesmo aberto parcialmente, o espaço já está sendo muito requisitado, sobretudo aos sábados e domingos.

Entre eles está o motorista Jailton Marques, de 31 anos, que começou a patinar há 10 meses, ainda na pandemia. “Andava sozinho na rua até descobrir aqui. Agora não paro de vir mais”, afirma.

Foi Jailton quem avisou o amigo, o cobrador Mateus de Souza, de 22 anos, morador de Itapecerica da Serra (Grande SP), que o vale do Anhangabaú estava aberto.

“Comecei a patinar há seis meses. Demoro uma hora e meia para chegar até aqui. Pra mim é uma grande terapia”, afirma.

O motorista Jailton Marques, de 31 anos, aprendeu a patinar sozinho durante a pandemia - Ronny Santos/ Folhapress

De filho para pai

Aos 50 anos de idade, o cabeleireiro Guo Ran aprendeu a patinar influenciado pelos dois filhos, Gustavo, de 17, e Guilherme, de 13. “Acabo acompanhando eles e pratico um pouco também”, afirma.

Guilherme, o mais novo, é o mais experiente nos patins e já conquistou o quarto lugar no campeonato sul-americano júnior.

Gustavo pratica o free jump, modalidade em que pula barras acima de 1,40 m de altura. “Eu nunca me machuquei sério, mas é bom ter meu pai por perto”, diz.

Morador da região central, o autônomo Edgar Filho, 36 anos, diz que não patinava há muitos anos. Ao ver a filha, Daphne, de 9 anos, tomar gosto pela prática, comprou um par de patins usados. “Voltei a andar por causa dela. E é bom para ficarmos juntos”, diz.

Com 8,5 mil seguidores em seu Instagram, Júlia Zonta, de 14 anos, já é uma micro influencer dos patins. Ela diz querer competir e conta com apoio dos pais, que a acompanham nas vezes em que ela vai até o vale do Anhangabaú.

“Aqui [vale do Anhangabaú] já virou um parque não só para eles, mas para todas as famílias”, diz a mãe dela, a condutora escolar Camila Zonta, 45 anos.

Os irmãos Gustavo, de 17 anos (camiseta branca), e Guilherme, 13, (de vermelho), ensinaram o pai, o cabelereiro Guo Ran, 50 anos, a patinar - Ronny Santos/Folhapress

Segurança

Antes da reforma do vale do Anhangabaú, o local era mais frequentado por skatistas do que por patinadores.

“Aqui é histórico para o skate. E o pessoal sempre ficou esperto com assaltos. Não podia dar vacilo. Agora está bem de boa”, afirma Gabriel Pereira, o Gabriel GG, um dos assíduos frequentadores do local nos anos 1990.

O receio de assaltos aliado às pedras portuguesas não atraiu muitos patinadores para o local, situação que mudou agora após a revitalização do espaço.

“Eu sempre passei por aqui devido ao meu trabalho, mas agora está muito melhor”, afirma a servidora pública Elisama Ferreira, de 45 anos. Ela levou a sobrinha, Manuella, de 8 anos, para patinar pela primeira vez no vale do Anhangabaú no feriado de Tiradentes, na quarta-feira (21). “Nitidamente está mais seguro do que antes”, afirma.

Moradora do centro há mais de 20 anos, a atriz Priscila Silva, de 35 anos, decidiu comprar patins e aprender sozinha ao ver a movimentação no vale do Anhangabaú.

“Moro a dois quarteirões do vale e confesso que sempre tive receio em passar por aqui. Agora, vendo os guardas e o pessoal por aqui, criei coragem”, afirma.

Polêmicas

Apesar do vale do Anhangabaú ter caído nas graças dos patinadores, além dos skatistas, já habituados ao local, nem mesmo a Prefeitura de São Paulo sabe informar quando o local estará totalmente aberto à população.

E o motivo não é a obra em si, pronta desde o dia 30 de outubro de 2020, mas sim devido à pandemia e burocracia sobre quem tomará conta do espaço. A única certeza é que antes de julho deste ano o espaço deve continuar fechado.

Desde que foi anunciada, a obra de revitalização do Vale do Anhangabaú esteve cercada de diversas polêmicas e sua abertura foi adiada seis vezes.

O plano de reforma do Anhangabaú foi feito na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e retomado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) em 2019, com estimativa de entrega em junho de 2020. A pandemia e os constantes atrasos na obra impediram que ela fosse inaugurada até agora.

Uma das primeiras polêmicas foi a retirada de árvores, sobretudo palmeiras , que foram replantadas em outros locais da cidade.

As antigas curvas de concreto que acompanhavam os canteiros foram substituídas por estruturas de concreto liso. No chão foram instalados 850 pontos de jatos d’água com luz LED.

Outro fator que gerou críticas foi o valor gasto. Inicialmente prevista para custar R$ 80 mi, a reforma sofreu um aditivo em março de 2020 de R$ 14 milhões, chegando a R$ 94 mi. Um novo reajuste elevou o valor para R$ 106 mi.

Anhangabaú agora e na reforma

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Vale do Anhangabaú após revitalização que custou R$ 106 milhões e no início da reforma - Ronny Santos/Folhapress

Inauguração

Questionada sobre quando fará a inauguração do vale do Anhangabaú, a Prefeitura de São Paulo informou que a concessão ainda está pendente.

Isso acontece porque o contrato das obras de revitalização foi suspenso. Com isso, apesar de a obra estar pronta, ela não pode ser considerada oficialmente entregue.

Além disso, ainda não se sabe quem fará a administração comercial da área. Na sua nova concepção, o vale do Anhangabaú conta com 12 quiosques, que abrigarão serviços tais como comércios, pontos de alimentação, sanitários e bancos.

Em nota, a prefeitura informou que o consórcio vencedor da exploração do espaço não apresentou a documentação necessária para assinatura do contrato a tempo. Com isso, foi convocado o segundo colocado.

“A administração recebeu manifestação da primeira colocada que apresentou recurso à decisão, assim como da segunda colocada que demonstrou interesse na adjudicação do objeto. Ambos os ofícios estão em análise pela administração”, informa nota da prefeitura.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado na versão anterior deste texto, o nome correto do programador entrevistado é Daniel Neitzel. O texto foi corrigido.

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