O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, afirma que uma das principais marcas de sua gestão será a criação de frentes de trabalho, com 50 mil vagas, que serão responsáveis pela zeladoria da cidade. Diz também que vai governar principalmente para a periferia. Veja os principais trechos de entrevista concedida ao Agora na segunda-feira passada (23).
Agora - Se o senhor for eleito, vai assumir a cidade ainda enfrentando a pandemia. Que medidas pretende tomar?
Guilherme Boulos - Eu vou fazer aquilo que o Bruno Covas deveria ter feito e não fez. Se nós tivermos ainda um cenário com crescimento de casos e de internações, o que vou fazer é um processo de testagem mais amplo, com monitoramento epidemiológico. Foi assim que os países que melhor lidaram com a pandemia agiram. Vamos reabrir os hospitais que estão fechados e fazer uma contratação emergencial de médicos e profissionais da saúde.
Leia entrevista com Bruno Covas (PSDB)
Como atrair médicos para a periferia?
Vamos ter duas iniciativas. Esse é um dos grandes problemas que se tem em UBSs, UPAs e hospitais. Vamos fazer concurso público voltado para as unidades de saúde da periferia, com a contratação de médicos para trabalhar nessas regiões. A segunda proposta é ter um diálogo com esses profissionais de saúde. Fazer um serviço de residência em saúde da família.
O seu plano de governo propõe tarifa zero para desempregados, jovens de até 24 anos e mulheres com crianças de colo. Como viabilizar a proposta, sendo que há um novo contrato e subsídios de mais de R$ 2 bilhões neste ano?
O que vou fazer em primeiro lugar é enfrentar a máfia dos transportes. Não aceitar que as empresas tenham contratos bilionários, enquanto o serviço é de péssima qualidade e a tarifa aumenta todo ano. Primeiro, vou chegar lá e colocar uma lupa nos contratos. Isso é uma questão do prefeito. O custo que fizemos para passe livre para desempregado, estudantes e mulheres com crianças de colo é menos de R$ 1 bilhão ao ano.
O que as empresas alegam é que é necessário melhorar a infraestrutura, com corredores, terminais, para aumentar a eficiência. Como o senhor, com orçamento reduzido, vai construir mais corredores?
É uma questão de inverter prioridade. A gestão do Doria e do Bruno tinha previsão de gastar R$ 1,5 bilhão em corredores. Sabe quanto gastaram? R$ 300 milhões. Eles cortaram quatro quintos. Botaram isso para fazer recapeamento em véspera de eleição, para quebrar calçada, às vezes boa. Nosso plano prevê 150 km de corredores. Vamos terminar o corredor da Radial Leste e duplicar a estrada do M’Boi Mirim.
O senhor disse que as frentes de trabalho serão uma grande aposta, inclusive em relação à zeladoria (buraco na rua, bueiro entupido etc.). Serão a principal forma de resolver isso?
Vão, sim. A cidade hoje está abandonada. Principalmente as periferias. Eu sou morador da periferia, do Campo Limpo. Para mim, periferia não é estatística, número. Não a conheço de cair de paraquedas a cada quatro anos. É onde vivo, são meus vizinhos, a história de vida das pessoas que conheço e amo. A periferia está abandonada por esse governo do Doria e do Bruno Covas. O que a gente viu foram três anos da cidade largada e agora, véspera de eleição, tudo magicamente começou a funcionar. As frentes de trabalho vão ser o grande instrumento que a nossa prefeitura vai ter para, ao mesmo tempo, gerar emprego, porque temos que ter um plano de recuperação da crise econômica, e melhorar os cuidados com a zeladoria.
Como minimizar o problema das enchentes?
O primeiro ponto é fazer a lição de casa. Limpeza de bueiro, de boca de lobo, manutenção e limpeza de córregos e piscinões. É o básico e essa prefeitura não fez. Eles cortaram mais da metade dos recursos para prevenção e combate às enchentes. Até aqui, não fizeram nada, nem o feijão com arroz. E as frentes de trabalho vão ser muito importantes para isso. E pequenas obras de infraestrutura e drenagem para evitar deslizamento em áreas de risco. Isso é simples, barato, possível de se fazer. Claro que a solução mais de longo prazo vem com uma substituição de modelo na cidade.
Vai ter meta de tempo para execução de serviços?
Com as frentes de trabalho, a resposta vai ser praticamente imediata. Porque em cada subprefeitura teremos centenas de pessoas novas atuando. Havendo a demanda, a identificação ativa da própria prefeitura de cada problema, como buraco, sujeira no córrego, queda de árvore, vamos atuar de forma imediata.
Considerando que em 2021 o ano letivo ainda vai começar com o ensino a distância, como a prefeitura pode reverter a defasagem de aprendizagem?
Respondo não só como candidato a prefeito, mas como professor que deu aula na rede pública e como pai de duas meninas que também agora estão tendo ensino a distância. Se precisarmos ainda manter ensino a distância, vou fazer o que o Bruno Covas não fez, e que se fez no mundo inteiro, que é garantir pacote de internet para que as crianças e os jovens possam ter aula. Os nossos jovens não puderam acompanhar aula muitas vezes por não terem internet.
Como zerar a fila das creches? Vai manter ou não as creches conveniadas?
Primeiro, é uma vergonha o uso da máquina pública que a campanha do Bruno Covas e o próprio têm feito para espalhar mentira para os professores da rede conveniada. Hoje, a maior parte das creches é conveniada. São geridas por entidades parceiras. Em nenhum momento defendi que isso seja rompido. Inclusive, a maior parte das entidades parceiras presta um bom serviço. Temos o compromisso não só de manter o trabalho bem-feito, como ampliar para zerar a fila. Esse investimento previsto, em torno de R$ 700 milhões nos quatro anos, é plenamente possível.
Os últimos prefeitos deixaram alguma marca ou pelo menos tentaram. Qual será a sua?
Vou ter duas grandes medidas iniciais. A primeira vai ser o programa Renda Solidária, para garantir que ninguém fique na miséria e passe fome na cidade mais rica do Brasil. Vamos garantir para até 1 milhão de famílias renda entre R$ 200 e R$ 400. É o básico, dá dignidade e aquece a economia local. A segunda é que ninguém, ninguém precise morar na rua. Esse é o meu compromisso de vida. Luto com sem-teto há 20 anos, para que as pessoas tenham um teto, que é o básico. A grande marca da minha gestão é que vou governar para a periferia. Vou governar, evidentemente, para a cidade toda, mas a gente tem que ter um olhar prioritário para a parte da cidade que está mais abandonada.
O país assistiu ao espancamento e à morte do Beto Freitas, no Carrefour, na véspera do Dia da Consciência Negra. Qual o papel da prefeitura na luta contra o racismo?
Primeiro, acho que como todos nós, fiquei devastado vendo aquele vídeo. O mais doloroso é saber que aquilo não é um caso isolado, mas que acontece com frequência no Brasil e em São Paulo. A primeira medida que vou tomar é recriar a Secretaria de Igualdade Racial, que o Doria e o Bruno Covas fecharam em São Paulo. Existe uma lei federal que prevê o ensino de história africana e cultura afro-brasileira. Vamos implementar essa lei em todas as escolas municipais. Vamos ter uma representação e protagonismo de negros e negras também no nosso secretariado. Chega de tolerar o racismo.
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